O momento histórico brasileiro realmente é único. Sem ter como fazer paralelos com o passado, no eixo do tempo, resta fazer paralelos no eixo do espaço, olhando o mapa. Penso que estamos precisamente entre a Venezuela e o Paraguai. Corremos o risco de escapar de ser uma Venezuela para nos tornar um Paraguai.
O impeachment, ainda que justificado, é sempre lamentável, e mais lamentável ainda dois impeachments em 25 anos. Se virar moda, poderemos cair em um parlamentarismo ex-officio. Mas as circunstâncias em que o presente pedido de impeachment ocorre são especialmente lamentáveis. A oposição não tem qualquer projeto, parece totalmente cega pela ambição de ocupar o lugar da presidente, e a cegueira é tanta que sequer percebem o principal: se Dilma for derrubada por alguém como Eduardo Campos, ela vai sair na foto como vítima, e não como vilã. Esquecem-se de que a memória coletiva é seletiva: em pouco tempo o povo terá esquecido os anos ruins de Dilma, e se lembrará somente dos anos bons de Lula. A lenda de que Dilma foi derrubada por uma pérfida conspiração só ganhará força com o tempo, abrindo o caminho para o retorno de Lula em 2018. Afoita, a oposição tem tudo para queimar a largada.
Mas Eduardo Cunha também é um exemplo ilustrativo do tipo do político que as alianças do PT nos últimos anos trouxeram ao primeiro plano. De certa forma ele é o destino que o próprio PT traçou. E esse destino pode recair sobre todos nós.
Queria acordar um dia e ver que tudo não passou de um pesadelo.
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