segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O Fim de um Orgulho Nacional

A derrota por goleada do Fluminense na final do campeonato mundial de clubes poderia ser um assunto irrelevante para se comentar aqui, além de ser de todo esperada, mas ela tem, sim, um significado histórico. Trata-se do emblema de nosso papel desde sempre no comércio mundial, o de ser fornecedor de matérias-primas, agora chamadas mais elegantemente de commodities, para serem processadas pelos países desenvolvidos.

Nenhum jogador de bom nível, nos dias presentes, atua em uma equipe nacional. O Fluminense foi derrotado por uma equipe britânica cujos principais jogadores são estrangeiros. A nacionalidade já não tem significado no futebol de clubes, apenas nas seleções. Mas eu pergunto que paixão há em torcer para uma seleção nacional cujos jogadores atuam todos no exterior, você jamais os viu em um estádio brasileiro, são praticamente estrangeiros. Eu dispenso. E não sinto falta: já fui interessado por futebol a acompanhei partidas com prazer, então já vi o que um dia existiu de melhor, e não preciso de mais.

Mas o fim da relevância do Brasil no mundo do futebol é também o fim de um antigo orgulho nacional. Triste isso? Não acho. Terminou uma antiga empulhação que insistia em ver um significado antropológico e racial profundo no futebol brasileiro, a qual deu origem a mitos cultivados aqui com carinho, mas também a caricaturas até hoje repetidas no exterior sobre os brasileiros. Tenho a impressão de que estamos menos ingênuos agora. Futebol é só futebol. Não é a manifestação do improviso e da irreverência da população mestiça. Não é o patriotismo levado ao esporte. Não é o bálsamo que faz esquecer as dificuldades da vida. Não é a alegria natural de um povo que está sempre festejando, porque só sabe fazer isso. Futebol é só futebol.

Mas a derrota do Fluminense não deixa de ser a derrota de todo um país que falhou em tornar-se mais que mero exportador de profutos primários.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Mais Uma Guerra de Bobagem

O noticiário tem sido dominado por uma novidade ao mesmo tempo inusitada e assustadora: a iminência de uma guerra bem às portas do país, na Guiana, que tem parte do território reinvindicado pela Venezuela.

Conhecendo o que aconteceu em 1982, no episódio conhecido como Guerra das Malvinas, não dá para acreditar que com certeza é tudo uma farsa. Os mesmos componentes estão visíveis: uma antiga disputa territorial esquecida, um regime ditatorial fracassado que deseja catalisar o apoio da população, uma causa que une governo e oposição. Desta forma, nosso esquecido continente é trazido brevemente para os holofotes da relevância internacional.

Mas o que quer que aconteça, não vai incomodar o mundo, se nem mesmo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia incomoda tanto. É mais uma prova de como a América Latina saiu da História, e só obtém atenção por meio de espetáculos encenados, dos quais o regieme chavista sempre mostrou-se especialista. Tempo houve em que esta parte do mundo era considerada a região "emergente" por excelência, local de futuras potências mundiais, e importantíssima do ponto de vista estratégico no contexto da Guerra Fria: aqui EUA e URSS disputavam aliados e intervinham por todos os meios.

Hoje isso acabou. Emergentes são os países da Ásia, nova potência é a China, e encerrada a Guerra Fria, Cuba voltou a ser uma ilha pitoresca no Caribe, e a Venezuela pode ser comunista à vontade, que isso em nada perturba a ordem mundial. E pior, pode até fazer guerra, que tampouco importa a alguém, exceto a quem está por perto. Mas se o próprio comunismo da Venezuela não passa de mais uma encenação do regime, o mesmo pode ser dito a respeito desta guerra.

Ou nem tanto. Se acontecer, o Brasil será invadido, sim, não por soldados, mas por refugiados da Guiana, que está logo ali na fronteira. Esses refugiados se amontoarão junto com outros refugiados mais antigos, os venezuelanos em Roraima, e é claro, vão brigar. Uma confusão monumental. E nosso presidente já pagou com a língua: após levar sua mensagem de apoio ao compadre Maduro, antigo aliado de esquerda, agora tem que pisar em ovos para dizer que o compadre não deve começar uma guerra que vai bagunçar nosso quintal.