Enquanto o compasso geral de espera por que passa o país me deixa sem ter do que escrever, aproveito para ler alguns livros cuja leitura venho adiando a tempos. Um que eu estou gostando é Contos Obscuros de Edgard Allan Poe, uma coletânea de textos normalmente omitidos nas outras coletâneas.
Um dos contos (esse eu já conhecia) chama-se Uma Descida no Maelström, e conta a narrativa de um pescador norueguês que foi tragado por um terrível turbilhão de maré que existe dentro de um fiorde na Noruega, e conseguiu sobreviver. Uma passagem me chamou a atenção:
"Pode parecer estranho, mas então, quando nos achávamos nas verdadeiras fauces do abismo, senti-me com mais sangue-frio do que quando estávamos apenas nos aproximando dele. Tendo desistido de qualquer esperança, consegui dominar grande parte daquele terror que me acovardara a princípio"
Pois é precisamente assim que eu estou me sentindo em relação aos acontecimentos nacionais. Estamos descendo, lenta e inexoravelmente, em direção ao abismo, tal como o barco do azarado pescador, mas justo agora que tudo está paralisado - a presidente da república não age nem reage, o vice-presidente não se pronuncia, o presidente da câmara está prestes a perder o cargo, a oposição não vem com qualquer proposta, o ministro da economia não faz plano nenhum nem deixa o cargo - é que me sinto mais aliviado. Isso porque eu vejo que apesar de tudo isso, a situação não piora - apenas continuamos a descer, lentamente e sem atropelos, o abismo. Penso, então, que não devo temer a falta de ação do governo, devo mais é comemora-la, pois está visto que o Brasil funciona melhor sem governo do que com governo. Então, tal como o pescador norueguês escapou do abismo girando dentro de um barril para retardar a descida, talvez possamos também escapar de nosso abismo tocando nosso barco enquanto o governo permanece inerte. Que continue assim.
sábado, 24 de outubro de 2015
sábado, 17 de outubro de 2015
Total indefinição
Não tenho escrito muito ultimamente, mas há um bom motivo: não tenho muito sobre o que escrever. O quadro atual é de total indefinição e muito pouco inspirador. O tema do impeachment voltou à baila, mas já chega requentado: a essa altura resta pouca dúvida de que a motivação desta proposta sustenta-se quase exclusivamente na ambição desmedida de Aécio Neves em ser presidente. Resta saber por que caminho. Se Dilma sair, entra Temer. Existe a possibilidade de invalidar-se toda a chapa petista de 2014, e aí sai Temer e entra Cunha. Mas Cunha já está caindo. Aécio quer tornar-se o novo presidente da câmara, para ser o próximo na linha de sucessão? Mas ele é senador.
E de resto, já apontei aqui inúmeras vezes a inconveniência política do impeachment. Além da desmoralização do país ter dois presidentes impedidos em um intervalo de trinta anos, será de todo contraproducente para os atuais oposicionistas. O PT vai passar de telhado a pedra, e atirar pedras o PT sempre soube fazer muito bem. O novo governo, seja qual for, não poderá oferecer nada de alvissareiro à população no curto prazo, e ficará sob fogo cerrado dos petistas lembrando os bons tempos de Lula, que poderá voltar em 2018. Sacar Dilma do poder agora poderá ser um enorme tiro no pé do PSDB.
Mas tudo são hipóteses, porque de concreto, não acontece nada. O ajuste não sai. A presidente não age nem reage. Levy não implementa um plano nem pede demissão. E tudo acontece o contrário do que devia ser: o PSDB, ao invés de ater-se à racionalidade de sua grande obra, o Plano Real, vem com propostas populistas irresponsáveis, sem perceber que agora é tarde demais para bancar o esquerdista. Lula, ao invés de apoiar Dilma nesse momento delicado, faz discurso de opositor, criticando a austeridade e o ajuste como se fossem evitáveis a essa altura. Tão ambicioso quanto Aécio, está de olho na sucessão presidencial, mas o risco de cair do pedestal é muito grande. A impressão geral é que o momento de Lula já passou, e que o momento de Aécio não vai chegar nunca, pois tal como competidor afoito, ele queimou a largada. Diante de quadro tão confuso, até o dólar parou de subir e ficou esperando alguma coisa acontecer.
Enquanto o futuro não chega, o remédio é escrever sobre o passado. Vou ver se descubro um tema.
E de resto, já apontei aqui inúmeras vezes a inconveniência política do impeachment. Além da desmoralização do país ter dois presidentes impedidos em um intervalo de trinta anos, será de todo contraproducente para os atuais oposicionistas. O PT vai passar de telhado a pedra, e atirar pedras o PT sempre soube fazer muito bem. O novo governo, seja qual for, não poderá oferecer nada de alvissareiro à população no curto prazo, e ficará sob fogo cerrado dos petistas lembrando os bons tempos de Lula, que poderá voltar em 2018. Sacar Dilma do poder agora poderá ser um enorme tiro no pé do PSDB.
Mas tudo são hipóteses, porque de concreto, não acontece nada. O ajuste não sai. A presidente não age nem reage. Levy não implementa um plano nem pede demissão. E tudo acontece o contrário do que devia ser: o PSDB, ao invés de ater-se à racionalidade de sua grande obra, o Plano Real, vem com propostas populistas irresponsáveis, sem perceber que agora é tarde demais para bancar o esquerdista. Lula, ao invés de apoiar Dilma nesse momento delicado, faz discurso de opositor, criticando a austeridade e o ajuste como se fossem evitáveis a essa altura. Tão ambicioso quanto Aécio, está de olho na sucessão presidencial, mas o risco de cair do pedestal é muito grande. A impressão geral é que o momento de Lula já passou, e que o momento de Aécio não vai chegar nunca, pois tal como competidor afoito, ele queimou a largada. Diante de quadro tão confuso, até o dólar parou de subir e ficou esperando alguma coisa acontecer.
Enquanto o futuro não chega, o remédio é escrever sobre o passado. Vou ver se descubro um tema.
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