domingo, 26 de setembro de 2021

Paulo Freire, o responsável pelo desastre de nossa educação?

Nenhuma personalidade esteve mais na berlinda nos últimos anos do que o educador Paulo Freire, proclamado patrono de nossa educação em 2012. Seus detratores afirmam que levando em conta os desastrosos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros em todas as avaliações, Paulo Freire é um adequado ocupante de tal posto. É acusado de ser o maior responsável pelo fracasso de nossa educação. Agora, em seu centenário, tem recebido diversas homenagens. Herói ou vilão?

Vou expressar minha opinião desapaixonada. Não acredito que Paulo Freire seja o responsável por nosso fracasso educacional. E nem poderia ser, por uma razão cabal: ele não é um educador, e sim um filósofo. Vão dizer, mas ele tem um método. Sim, mas o método a ele atribuído destina-se à alfabetização de adultos, não é de uso geral. Sua obra magna, Pedagogia do Oprimido, não cita nenhum educador, mas apenas líderes revolucionários. Não tem nenhuma utilidade prática em pedagogia ou didática. Enfim, Paulo Freire é um personagem arcano, bom para receber títulos honoris causa e citações elogiosas - e nada além disso. Os maus resultados de nossos estudantes têm outras causas, mais prosaicas e diversas, desde a falta de condições de trabalho de nossos professores até o mau estado das escolas.

Mas se não é o responsável pelo fracasso de nossa educação, Paulo Freire é o responsável pela aceitação resignada deste fracasso, em razão do desprestígio da figura do professor e do próprio ato de educar, trazido pelas ideias que disseminou. Ao conferir um significado político ao ato de educar, Paulo Freire vendeu a noção de que a principal finalidade do professor não seria ensinar a matéria, mas "formar cidadãos" - conceito subjetivo que cada um interpreta como quiser. Então, qual é o problema das notas estarem baixas, se a real finalidade da educação não é essa?

Com seu edifício de teorias construído em um mundo onde só há oprimidos e opressores, Paulo Freire deu o papel de opressor ao professor que tenta ensinar, mais precisamente, ao professor que tenta passar conhecimentos ao aluno - atitude condenável de quem vê o aluno como uma conta bancária que recebe depósitos, o que denominou "educação bancária", própria do opressor que tenciona replicar na geração seguinte a mesma sociedade injusta da qual supostamente é beneficiário. Segundo essa abordagem, o aluno não sabe menos que o professor, mas ambos têm saberes diferentes, tampouco existe aluno mau ou aluno bom, apenas pontos de vista distintos.

Desta forma fica impossibilitada qualquer hierarquia de autoridade que permita ao professor impor disciplina e transmitir o que sabe ao aluno que não sabe, bem como invalidado qualquer tipo de avaliação que permita premiar o aluno capaz e esforçado. Foi aberto assim o caminho à nefasta aprovação automática, implementada por Freire, já que reprovar seria um ato de opressão, mas motivada pelo propósito mais pragmático de zerar as estatísticas de reprovação. Até o bom uso do idioma foi demonizado, posto que a norma culta seria uma imposição do opressor, e a maneira de falar do inculto - o oprimido - supostamente é tão boa quanto. Desnecessário frisar que o mau domínio do idioma dificulta o aprendizado de qualquer conteúdo mais complexo.

Somente abandonar as ideias de Paulo Freire não fará a nossa educação sair do buraco. Mas permitirá ao menos enxergar este buraco, e restaurar o papel correto do educador e do educando permitirá ao menos enxergar a direção a seguir. 

domingo, 5 de setembro de 2021

O Sete de Setembro de Jair Bolsonaro

O Sete de Setembro costuma ser um feriado morno, com manifestações esquematizadas, o tradicional desfile. Afinal, a independência do país é um dos raros eventos históricos sobre o qual há unanimidade: alguém aí é contra a independência? Mas o deste ano promete surtir um efeito extra, em razão das manifestações programadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

O fenômeno já é conhecido: de tanto em tanto surgem personagens improváveis em nossa História, tipo corpos estranhos ao sistema, que cruzam o céu da política em uma trajetória meteórica, chegam ao ápice e logo depois desaparecem de forma inglória. O primeiro foi Jânio Quadros, fenômeno eleitoral que governou por sete meses e renunciou tentando um golpe que fracassou. O segundo foi Paulo Maluf, que furou a cena da sucessão que deveria ser controlada pelo presidente Figueiredo como era praxe do regime, mas seus colegas de partido preferiram implodir o partido a abrir caminho para o arrivista. O terceiro foi Fernando Collor, que de um partido nanico saltou para a presidência com um rosto jovem e um currículo antigo, e terminou impedido após provocar a pior crise econômica da História. Em comum, todos tinham um caráter de homem-forte independente dos clãs políticos tradicionais, um discurso bombástico e um posicionamento inclinado à direita. E todos foram expelidos como corpos estranhos ao organismo político nacional.

Eis que surge um quarto personagem com precisamente tais características. Fica no ar a pergunta: será que desta vez vai dar certo? O golpe que Bolsonaro arma para o sete de setembro vai triunfar onde falhou o golpe da renúncia de Jânio? Bolsonaro vai ser bem sucedido onde Maluf falhou ao obter o apoio de sua base aliada? Seus planos econômicos vão dar certo onde o confisco da poupança de Collor fracassou?

Pessoalmente não acredito. Todo fenômeno político que se repete termina banalizado, pois o roteiro torna-se por demais conhecido - primeiro acontece como tragédia, e depois se repete como farsa. E já é o quarto re-play. O próprio dia escolhido carrega algo de farsesco: a real data da independência do Brasil não foi o sete de setembro, mas o conhecido "dia do fico", pois desde aquela data o imperador já se encontrava formalmente rompido com o governo metropolitano. O sete de setembro foi escolhido posteriormente para simbolizar a independência, mas a sequência de eventos teria acontecido de qualquer maneira, independente do que Dom Pedro fizesse ou deixasse da fazer naquele dia. A partir daí toda uma mitologia foi erguida em torno da data, a começar pelo suposto grito. Os professores de História não deixam de lembrar que o imperador só parou às margens do Ipiranga porque estava com uma diarreia. Outros dizem que Dom Pedro estava indo a São Paulo só para se encontrar com sua amante, sendo que o imperador nem conhecia dona Domitila na ocasião - veio a conhecê-la nessa viagem por acaso. Querendo a todo custo achincalhar com o país, passam a mensagem de que a independência foi algo tão fortuito que aconteceu graças a uma indisposição intestinal e a uma pulada de cerca.

Com tanta farsa no ar, não dá para levar muito a sério este sete de setembro de Bolsonaro. Vou pagar para ver. Minha aposta é que a diferença entre Bolsonaro e os três aventureiros que o antecederam, será que ao contrário destes, Bolsonaro vai terminar seu mandato. Nada além disso.