Se ainda não chegamos ao Fim da História, estágio que alguns estudiosos teorizam e alguns práticos gostariam que fosse o momento em que estão vivendo, é confortante ver que o pêndulo da História continua a oscilar, sinalizando que estamos vivos e o rio da História segue seu curso. E no momento, o pêndulo parece que está pendendo novamente para a esquerda e o PT. É bom, é mau? Eu diria que é normal.
O governo Bolsonaro não foi a catástrofe que os opositores previam e alguns temiam. Chega nesse momento difícil com ainda uns repeitáveis 30% de aprovação. Mas é flagrante que praticamente todos os aspectos negativos de seu governo devem-se a posturas errôneas e intransigentes do próprio presidente, e não a fatores externos. Este quadro coloca em risco suas pretensões à continuidade no próximo mandato, e nesse momento ressurge Lula como candidato. No horizonte, desenha-se um confronto entre extremos.
A oportunidade de se estabelecer um bipartidarismo estável, modelo de todos os países capitalistas desenvolvidos, foi desperdiçada em razão do confronto entre o PT e o PSDB na época de Lula. Encasquetaram os petistas de que seu inimigo visceral eram os tucanos, e que poderiam comprar com poucos tostões o apoio do centrão. Deu no que deu, e ao invés de um revezamento entre uma centro-esquerda e uma centro-direita, teremos um revezamento entre uma esquerda rancorosa e uma direita raivosa.
De fato, o ressurgimento de Lula, inocentado por uma polêmica decisão do STF, tem uma aura de revanche. Mas o quadro geral tem mais jeito de farsa do que de tragédia. O Lula possível candidato não é o mesmo Lula que venceu em 2002 em um clima de grande otimismo. A conjuntura internacional agora é outra, e os bons ventos que sopraram no primeiro governo de Lula não voltarão a soprar. Com sua notável capacidade de preservar sua imagem, é provável que ele fique fora da disputa, a fim de que na memória do povo fique somente o Lula bem sucedido da primeira década do século, e agora ele limite-se a emprestar seu apoio a um candidato. Mas seja qual for o novo presidente petista, é improvável que faça um governo de revanche, radicalizando tudo o que o PT não pôde fazer com Dilma Rousseff. O PT saiu bastante enfraquecido da sucessão de escândalos que marcou seu período, e parece estar estéril de novas lideranças, como se o personalismo de Lula houvesse lançado uma sombra sobre todos os demais companheiros.
Já a nova direita que elegeu Bolsonaro também parece esgotada. O próprio Bolsonaro, membro tardio do regime de 1964 já extinto quando iniciou sua carreira política, já surgiu em um contexto de farsa que sucede à tragédia: ninguém acredita que possa reeditar a ditadura que ele tanto admira. Muitos de seus apoiadores parecem viver de um passado idealizado, e ironicamente incompatível com a política do governo atual, pois o nacional-estatismo dos generais tinha mais a ver com o projeto petista da Nova Matriz econômica do que com o alegado liberalismo econômico do presidente.
Fica a esperança de que até o ano que vem surja uma alternativa vinda do centro. Do PMDB? Espero estar errado. Do PSDB? Esse partido parece estar ainda mais esgotado que todos os contentores atuais. Se não surgir ninguém, continuaremos a ter mais do mesmo. O pêndulo da História continuará a oscilar, mas nem sempre anunciando boas notícias.