segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Lula Lá

Apesar da exígua margem, a mais estreita da história republicana, aconteceu o previsto: Lula será o próximo presidente.

Quem acompanha meu blog sabe que eu deploro a falta de renovação da política brasileira. Lula já teve dois mandatos, e terminando mais esse, será (creio eu) o mais idoso presidente que já governou o país. Mas a bem dizer, não devo estranhar, nem lamentar que Lula esteja de novo no comando da nação. Muitos, como eu, não nutrem grande simpatia por ele, e de fato custou algum tempo até que se reconhecesse que Lula foi o personagem que mais encarnou as poucas qualidades e os muitos defeitos dos brasileiros de sua geração. Sem retórica, Lula tem mesmo a cara do Brasil - para o bem e para o mal.

Resta esperar, agora, que ele preserve a boa imagem legada por seus primeiros dois mandatos, e não se arrisque a colocar tudo a perder agora no fim de sua carreira, quando a lembrança que ficará para a posteridade será a deste último mandato. As perspectivas são boas, pois algo que Lula sempre mostrou saber bem cuidar, é da própria imagem. Lula sempre soube se reinventar, e mais não se diga, diferente de Bolsonaro e de Sérgio Moro, Lula sempre foi um político - ele sabe negociar e fazer alianças. Não tem grandes escrúpulos em defender aliados patifes, nem em entregar o pescoço deles quando é necessário para salvar o próprio pescoço. Mas assim é o mundo político. Como diz o ditado, aqueles que têm nojo à política são governados pelos que não têm.

domingo, 9 de outubro de 2022

O Passado Está à Frente

Não deveria dizer que o futuro está à frente?

Mas alguém já disse que o Brasil tem um grande passado pela frente, e essa afirmação nunca foi tão verdade quanto agora, que a presidência é disputada por dois candidatos que emergem de um passado já meio mítico. Entre um e o outro, apenas o burburinho dos mesmos personagens de sempre com suas intenções de voto nanicas, atestando a incapacidade do quadro político de se renovar.

Bolsonaro encarna o regime militar de que não tomou parte por não ter idade à época, mas que transformou em ideal, embora sua política nada tenha a ver com o nacional-estatismo do tempo dos generais. Lula encarna uma utopia que vem lá do século 19, o operário no poder, e credencia-se em dois mandatos bem sucedidos mas já afastados no tempo, quanto usufruiu de uma conjuntura mundial favorável que não se repetirá agora. A ausência de renovação mostra que o país chegou a um impasse, sem ideias ou projetos originais, muito menos utopias. Há muito que não somos mais o país do futuro - o futuro agora está na Ásia, naqueles países que poucas décadas atrás eram mais pobre do que nós. Com o fim da Guerra Fria, nossa parte do mundo também perdeu toda a importância estratégica para o Ocidente, e tornou-se, de fato, um subúrbio pobre do Ocidente, o que já era antes, mas pelo menos havia esperança.

Podemos, então, afirmar que quem quer que vença o segundo turno, não devemos esperar nenhuma novidade, só mais do mesmo. Certo? Nem tanto. Se Bolsonaro vencer, penso que essa premissa é verdadeira, pois o atual presidente parece esgotado de projetos, e sem forças para levar adiante suas pretensões ditatoriais. Mas se Lula for o vencedor, eu não me arrisco a prever. Lula tem uma inusitada capacidade de se reinventar, o que de fato é seu segredo, pois do contrário ja teria se desmoralizado pelas muitas eleições em que foi derrotado desde 1990, ou em razão do período em que esteve preso.

Como será o Lula de 2023? Há duas hipóteses. Ele pode repetir o Lula de 2010 com seu getulismo tardio, e reeditar a Nova Matriz Econômica em um cenário totalmente adverso, talvez deixando a bomba estourar no colo de seu sucessor, como fez com Dilma Rousseff. Ou então pode usar sua habilidade e seu carisma para criar um clima de confiança, como fez em 2002, e finalmente deixar para trás os modelos superados e enviar o país para algum futuro, senão o ideal, ao menos algum futuro.

Infelizmente há uma terceira hipótese. Ele pode querer preservar a imagem do Lula bem sucedido de seus dois mandatos anteriores, e conduzir uma administração sem grandes ousadias. Aí sim, teremos o passado à nossa frente.