Não deveria dizer que o futuro está à frente?
Mas alguém já disse que o Brasil tem um grande passado pela frente, e essa afirmação nunca foi tão verdade quanto agora, que a presidência é disputada por dois candidatos que emergem de um passado já meio mítico. Entre um e o outro, apenas o burburinho dos mesmos personagens de sempre com suas intenções de voto nanicas, atestando a incapacidade do quadro político de se renovar.
Bolsonaro encarna o regime militar de que não tomou parte por não ter idade à época, mas que transformou em ideal, embora sua política nada tenha a ver com o nacional-estatismo do tempo dos generais. Lula encarna uma utopia que vem lá do século 19, o operário no poder, e credencia-se em dois mandatos bem sucedidos mas já afastados no tempo, quanto usufruiu de uma conjuntura mundial favorável que não se repetirá agora. A ausência de renovação mostra que o país chegou a um impasse, sem ideias ou projetos originais, muito menos utopias. Há muito que não somos mais o país do futuro - o futuro agora está na Ásia, naqueles países que poucas décadas atrás eram mais pobre do que nós. Com o fim da Guerra Fria, nossa parte do mundo também perdeu toda a importância estratégica para o Ocidente, e tornou-se, de fato, um subúrbio pobre do Ocidente, o que já era antes, mas pelo menos havia esperança.
Podemos, então, afirmar que quem quer que vença o segundo turno, não devemos esperar nenhuma novidade, só mais do mesmo. Certo? Nem tanto. Se Bolsonaro vencer, penso que essa premissa é verdadeira, pois o atual presidente parece esgotado de projetos, e sem forças para levar adiante suas pretensões ditatoriais. Mas se Lula for o vencedor, eu não me arrisco a prever. Lula tem uma inusitada capacidade de se reinventar, o que de fato é seu segredo, pois do contrário ja teria se desmoralizado pelas muitas eleições em que foi derrotado desde 1990, ou em razão do período em que esteve preso.
Como será o Lula de 2023? Há duas hipóteses. Ele pode repetir o Lula de 2010 com seu getulismo tardio, e reeditar a Nova Matriz Econômica em um cenário totalmente adverso, talvez deixando a bomba estourar no colo de seu sucessor, como fez com Dilma Rousseff. Ou então pode usar sua habilidade e seu carisma para criar um clima de confiança, como fez em 2002, e finalmente deixar para trás os modelos superados e enviar o país para algum futuro, senão o ideal, ao menos algum futuro.
Infelizmente há uma terceira hipótese. Ele pode querer preservar a imagem do Lula bem sucedido de seus dois mandatos anteriores, e conduzir uma administração sem grandes ousadias. Aí sim, teremos o passado à nossa frente.
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