Refiro-me ao curioso contraste entre a nova ciclovia e as arcadas da Gruta da Imprensa, feitas de pedra, que ali estão há bem uns cem anos, com jeito de que daqui a outros cem anos continuarão lá. Passam uma impressão de solidez, serenidade e perenidade, e também de tradição - lembra uma obra do tempo dos romanos. A ciclovia construída sobre ela parece um brinquedo que alguém colocou displicentemente em cima de um móvel antigo.
Impossível não se perguntar: se a engenharia nacional, um dia, pôde fazer uma obra tão segura e bem acabada como as belas arcadas que há cem anos seguram aquele trecho da avenida Niemeyer, por que não é mais capaz de fazer uma simples ciclovia que resista às ondas? Com certeza a engenharia nacional já conheceu dias melhores. Em que instante, afinal, ela se trumbicou?
Rebuscando a memória, em me recordo de epidemias de obras desabando em seguida a um período de rápido progresso. Foi assim no tempo do "milagre" dos militares - lembram do desabamento do elevado da Paulo de Frontin em 1971? Não foi o único. Agora, em seguida a outro período de rápido crescimento econômico puxado por obras e mais obras, acontece de novo. Penso que o que matou a engenharia brasileira foi o nacional-estatismo: sendo o governo o grande motor da economia, o maior contratante de obras úteis e inúteis, diversas empreiteiras passam a depender exclusivamente de contratos com o poder público, e contaminam-se com os vícios inerentes a esta parceria: prazos estourados, preços superfaturados, vista grossa a falhas e tudo isso negociado com propinas, abandonaram-se os paradigmas originais da engenharia: a máxima eficiência e o mínimo custo. A fórmula do sucesso é a mínima eficiência e o máximo custo, porque a diferença vai parar no bolso de alguém.
A engenharia brasileira só vai renascer com o fim do nacional-estatismo.