A direita no Brasil renasceu com Olavo de Carvalho. Mas será que remorreu com a morte deste?
É fato que até poucas décadas atrás a direita brasileira parecia tão extinta quanto os antigos dinossauros. A direita política foi suprimida após a tomada de poder pelos militares em 1964, que não queriam nenhum partido político proeminente e tampouco qualquer resquício de poder civil, fosse de esquerda ou de direita. Já no terreno das ideias, durante a após a ditadura, ser direita era simplesmente ser politicamente incorreto, embora a expressão ainda não existisse. Ser de direita significava ser a favor da ditadura, da tortura, da desigualdade social, do massacre dos índios, etc. etc. Nesse deserto de ideias assentaram-se camadas de lugares-comuns repetidos pelos pretensos esquerdistas, que sedimentaram-se no senso comum.
Daí que a inesperada aparição de Olavo de Carvalho, desmontando peça por peça aquelas toscas construções ideológicas, tenha sido recebida como uma libertação para milhares de conservadores, que se viram novamente livres para expressar suas ideias sem as barreiras na novilíngua esquerdista. Houve mesmo uma euforia, e falou-se do surgimento de uma Nova Direita no país, finalmente apta a disputar o poder e romper com a hegemonia do ideário esquerdista.
E como se sabe, a direita chegou ao poder nas últimas eleições presidenciais. Entretanto, o próprio Olavo de Carvalho nunca estabeleceu-se como líder político, tendo preferido cercar-se de um séquito de discípulos fiéis, porém figuras apagadas fora dos círculos intelectuais. Foi proclamado como o guru da Nova Direita e grande inspirador de Jair Bolsonaro, mas o real alcance de sua influência sobre o presidente nunca ficou claro. Ele próprio não disfarçou estar um tanto desapontado com seus supostos seguidores e com o próprio Bolsonaro, e há quem diga que ele foi traído pelo presidente. A impressão que fica é que a direita que chegou ao poder não foi bem a sonhada por Olavo e seus discípulos. Mesmo porque o ideário dessa Nova Direita sempre me pareceu de pouca utilidade para o mundo político, misturando preceitos religiosos e filosóficos um tanto bizarros. Confusa como seu mentor, que nunca teve uma formação acadêmica regular. Polemista brilhante, mas difícil de conceituar, Olavo de Carvalho obteve sua formação intelectual catando preceitos de fontes avulsas, desde altos estudos clássicos até esoterismos e superstições - por muitos anos definiu-se como astrólogo. Nunca conseguiu montar um conjunto coerente de ideias, e parece não ter sido esse o seu objetivo. Amargo, pouco empático e sem disposição para o diálogo, abusando de linguagem chula contra quem ousasse contestá-lo, tornou-se aquilo que acusava a esquerda de ser: um sectário.
Olavo de Carvalho está ligado a um momento específico da História brasileira, aquele do esgotamento e da desilusão com a hegemonia das ideias da esquerda. Não foi feito para durar. Sua morte coincide com o esgotamento da direita no país.