sábado, 25 de julho de 2015

Sem dinheiro não se faz nada

Sem dinheiro não faz nada, bradou Dilma em um raro momento de sinceridade. Isso vem provar que até os mais cínicos enganadores falam a verdade quando encurralados pelos fatos. Mesmo ato falho ela já havia cometido em outra ocasião, quando afirmou: "nós esgotamos todos os recursos que tínhamos para evitar a crise de 2008", querendo referir-se ao país como um todo, mas esquecendo-se de que o "nós" aí era o governo, chefiado por ela própria. De fato, sua capacidade de fornecer desculpas esgotou-se, pois aqueles a quem ela poderia culpar, como a crise de 2008 e o governo do PSDB, já ficaram bem atrás no passado.

Nos últimos anos presenciamos no Brasil mais um voo de galinha, como os demais saudado como nossa entrada definitiva no clube dos países ricos; cada um desse episódios, contudo, sucedeu em um contexto político bem distinto. O mote desta vez foi a redistribuição de riqueza, e funcionou por algum tempo, até que esbarramos em uma realidade cabal: só se pode distribuir a riqueza já produzida. Quando esta se acaba, resta-nos repetir a frase de Dilma: sem dinheiro não se faz nada. O fato é que o país inteiro beneficiou-se de um prolongado período de crescimento na economia mundial e de subida de preços de nossa commodities, e o PT capitalizou em seu favor essa bonança, mas tal como o resto do país, apenas surfou a onda que se ergueu em sua direção. Outros voos de galinha ocorreram nos anos JK e na época do "milagre" dos militares. Nessas ocasiões, o incremento do padrão de vida da população foi puxado por um forte crescimento econômico que fez aumentar a oferta de empregos, mas que não foram paralelos a um equilíbrio nas contas públicas - junto aumentou a inflação, ou o endividamento, ou ambos. Por este motivo não foram auto-sustentáveis, pois o crescimento econômico não coexiste com o descalabro financeiro por muito tempo.

No ciclo de desenvolvimento dos anos Lula, tivemos uma novidade. O crescimento do PIB não foi tão forte quanto nos ciclos anteriores, mas desta vez o financeiro estava em ordem. Pela primeira vez em nossa História, a população experimentou um consistente aumento em seu padrão de vida puxado pela estabilidade econômica, que permitiu uma expansão do crédito e consequente aumento do consumo. Mas Dilma ressuscitou o nacional-estatismo que havia sido responsável pelo fracasso dos ciclos anteriores, com seu corolário de autofinanciamento dos bancos públicos pela emissão de moeda, produzindo inflação a fim de forçar a população a cobrir os deficit´s das contas do governo mediante a perda de seu poder aquisitivo. É uma ideia cepalina de 60 anos atrás, quando Celso Furtado afirmava que "um pouquinho de inflação" era necessária ao desenvolvimento e que a desvalorização da moeda era necessária para aumentar as exportações. Podia fazer algum sentido naquele tempo em que nossa indústria era incipiente e nossa carga tributária era baixa, mas no momento atual, o primeiro efeito de tal política será liquidar todo o incremento de padrão de vida experimentado pela população desde o Plano Real.

Quando vão acabar esses voos de galinha? Talvez no dia em que nos convencermos de que sem dinheiro não se faz nada.

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