No cenário atual de enfraquecimento do governo do PT, ouve-se aqui e ali uma grita medrosa contra a volta da direita e um suposto golpe que estaria sendo tramado. Entretanto, ninguém consegue ver direito a cara dessa nova direita. Aparentemente é o PSDB, o único partido até agora a falar em impeachment da presidente Dilma, mas se é assim, o que é do discurso de direita do PSDB? Esse discurso, quando se ouve por aí, parte de intelectuais desvinculados de quadros partidários ou de um ou outro líder político ou religioso meio folclórico, o PSDB apenas repete em linhas gerais a mesma e vaga declaração de princípios de todo partido de centro-esquerda, e na prática não tem projeto nenhum para o país. Suposto herdeiro do país após o esgotamento da era petista, o PSDB revela um desconcertante abulismo.
O caso é que a direita, no Brasil, desde o regime militar tornou-se um xingamento. Não que tenha deixado de existir, mas perdeu o rosto, já que ninguém mais assume-se como de direita - é politicamente incorreto no mínimo. Todos viraram esquerda. Desde então, sempre que há um recuo na esquerda, o que se observa é uma espécie de refluxo, um deslocamento de ar que vai preencher o vácuo recém-criado, sem que se possa discernir com precisão de onde ele vem nem para onde vai. Foi assim nas manifestações de 2013, cuja amplitude bem revelava o tamanho do descontentamento, sem que nenhum dos manifestantes ousasse expressar sua condenação ao governo. Desnecessário dizer que aquele cidadão que está descontente, mas não sabe dizer com o que, é a massa de manobra ideal que todo governo sonhou.
Mas agora o cenário está mudando. Nas manifestações deste ano, os manifestantes já conseguem dizer Fora Dilma. Ao que parece, a direita quer mesmo renascer. Mas quem a representará? O último partido assumidamente de direita que tivemos foi a UDN, e lá se vão 50 anos. O PSDB parece movido mais pela ambição pessoal de Aécio Neves e tampouco mostra-se disposto a exibir um projeto de direita para suceder ao atual governo: refiro-me ao liberalismo econômico, redução do tamanho do Estado, livre mercado, responsabilidade fiscal, desregulamentação. Tudo o que o PSDB pregou no tempo de Fernando Henrique, depois renegou. É aí que está o perigo: o vácuo já foi criado, mas não se sabe quem irá preenche-lo. Na falta de uma referência sólida para a direita, abrem-se as brechas para outsiders e aventureiros, de que nossa História registra muitos exemplos. Há os folclóricos, como Enéas Carneiro, mas ninguém sabe o que pode resultar de um Jair Bolsonaro, atual campeão de votos, tal como foi Enéas Carneiro, ambos canalizando aquela porção desencantada do eleitorado que não tem um partido que represente duas ideias. Um líder carismático sem uma base partidária sólida é um candidato natural a ditador - lembram-se de Jânio Quadros? E lembram-se do que veio depois de Jânio Quadros?
Jânio foi a UDN de porre, como disseram na época. Cansada de ser derrotada pela coalização trabalhista, a UDN teve a infeliz ideia de emular o populismo dos adversários criando um candidato genuinamente popular, mas de direita. Conseguiu vencer a eleição, mas... Na época atual, o PSDB, cansado de ser derrotado pelo PT, renegou seu ideário da era FHC e procurou emular o discurso petista, mas quem ia querer a imitação se pode ter o original?
Resta saber se a direita brasileira renascerá embasada em um partido, ou se teremos mais uma volta do mesmo.
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