Uma notícia recente veio na medida para confirmar o que eu havia escrito em meu último post: O ex-presidente uruguaio José Mujica, em um relato autobiográfico, afirmou haver ouvido do ex-presidente Lula que o mensalão era a única forma de governar o Brasil.
É claro que Mujica prontamente desmentiu a notícia que difamava o colega. Mas a impressão que ficou foi de que Lula, e possivelmente o PT como um todo, estão chegando àquela terceira etapa a que me referi: vão assumir que fizeram, e dizer, sem temor, que aquilo que fizeram foi bom para o país. Estará o PT, então, despindo de vez sua capa constitucional e assumindo sua essência?
Quem quiser conhecer a essência do PT pode visitar essa página do partido. Nota-se o enorme abismo entre o discurso das bases militantes e a prática do PT no poder. O que concluir? As hipóteses são duas:
1) O plano da base militante é o que efetivamente norteia o PT, e a prática da cúpula governista é uma fachada, ou
2) A base militante não passa de massa de manobra que serve de cabo eleitoral à cúpula governista.
Podemos discutir se a realidade é (1) ou (2), mas é indiscutível que essas duas facetas do PT têm convivido desde muito tempo. Por que essa aparente contradição interna não racha o PT? Ao contrário, ambas parecem capazes de conviver juntas por tempo indeterminado. Qual seria o "real" PT?
O senso comum, comparando o governo petista com outros governos de esquerda ditos bolivarianos no continente, é que o PT seria muito mais moderado. Mas analisando retroativamente, vê-se que todas as propostas radicais implementadas pelos governos bolivarianos, aí incluídas a regulação da mídia e a criação de conselhos populares, foram em algum momento colocadas pelo PT. A diferença foi que, aqui, elas foram rejeitadas por ampla margem no legislativo. Ideologicamente, portanto, não se pode afirmar que o PT difira da Venezuela de Chávez e da Argentina de Kirschner. A diferença reside na capacidade de impor tais medidas. Os outros regimes bolivarianos dispõem de uma militância armada e adestrada. A militância petista é desarmada e entretida com o chamado marxismo cultural. O que vale dizer: o PT depende dos trâmites do estado de direito para implementar seus projetos. Em outras palavras, depende de eleições e maiorias nas câmaras. Mas eleição só se ganha com o povo satisfeito, tendo emprego e crédito para comprar uma geladeira nas Casas Bahia pagando em 15 vezes. Todos sabem que isso só tem sido possível conservando-se a macroeconomia herdada do Plano Real, a qual por sua vez contradiz visceralmente o projeto da base militante. Foi esse o capital político que o PT acumulou e permitiu-o vencer as eleições nos últimos doze anos, e que agora começa a ser corroído pela crise. A circunstância de depender de eleição jogou o PT em um dilema:
1) Para ter sucesso na economia e assim angariar capital político, o PT precisa abandonar o ideário da base militante;
2) Para implementar o ideário da base militante, o PT precisa destruir o capital político que acumulou anteriormente.
Ora, mas é justamente com esse capital político que o PT contava para implementar o ideário da base militante! Se o destrói, dá um tiro no próprio pé. A única conclusão que podemos chegar é que a ascenção ao poder da base militante do PT é inviável pela via democrática. Enquanto o legislativo e o judiciário forem independentes, as eleições forem limpas e o eleitorado responder com desagrado à destruição da economia, o bolivarianismo só chega ao poder pela via revolucionária. Pode o PT realizar essa revolução? Sinceramente não creio. Penso que será em breve apeado do poder por obra e graça de um eleitorado por demais inculto para se deixar seduzir por discursos ideológicos, e que só vê o próprio bolso e os preços do mercado da esquina. Mas se essa derrota eleitoral se concretizar, tampouco deve-se ter a ilusão de que o PT terá caído por causa do mensalão ou do que mais diga respeito à corrupção que praticou. Será apenas uma consequência do caráter humano: é característica do venal ser também mau agradecido.
Pedro Mundim, por outro lado o foco no Marxismo Cultural não permitiu jogar o pensamento direitista num gueto? Eu tenho notado que as pessoas em geral estão mais direitistas, mais anti-socialistas, etc. Liberais, libertários, conservadores, tradicionalistas e monarquistas, se não aumentaram em numeros, pelo menos finalmente sairam do armário. Antigamente, me olhavam estranho por me dizer monarquista. Hoje em dia, é considerado quase normal.
ResponderExcluirAs pessoas estão confrontando a teoria com a prática. Os anos do regime militar criaram uma sólida aversão a tudo o que era de direita, mesmo entre aqueles que não eram de esquerda. Após a volta da democracia, a propaganda esquerdista cultivou um sonho, e agora tivemos um choque de realidade.
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