domingo, 19 de janeiro de 2025

A Cultura Woke foi um tiro no pé da esquerda?

Descobri essa indagação interessante em um vídeo. Explicando, cultura woke refere-se a uma percepção e consciência das questões relativas à justiça social e racial, sugerindo uma postura militante a esse respeito. O termo deriva da expressão de inglês afro-americano "stay woke" (fique desperto) e nos últimos anos tem se aplicado amplamente a políticas identitárias, causas sociais liberais, feminismo, ativismo LGBT e questões culturais, causas quase obrigatoriamente abraçadas pela esquerda.  Mas a evolução da militância woke tem tido desdobramentos imprevistos, conforme relatado:

"As últimas décadas foram de nítido avanço na luta contra o preconceito e a desigualdade. Em todo o mundo, as minorias - um leque que abrange negros, mulheres, imigrantes, homossexuais e pessoas trans - se beneficiaram de uma ampla e saudável revisão de julgamentos pela sociedade, que resultou na aprovação de leis garantindo seus direitos e punindo quem não os respeitasse. Assim caminhou a humanidade, com mais tolerância e aceitação, até a grita ultraconservadora ganhar força e um fosso se abrir entre ela e a banda mais progressista. A acentuada radicalização que se seguiu pegou em cheio os ventos da mudança social, permitindo que um grupo de zelotes tomasse a si a função de estender a teia de inclusão a limites extremos, atirando pedras para todo o lado e recorrendo às redes para sumariamente cancelar todo e qualquer suspeito de discriminação - uma cruzada furiosa a que deram o nome woke. Tanto provocaram e exageraram que o woke, depois de um pico de influência, entrou em acelerado declínio - fazendo ressurgir, infelizmente, o impulso para realimentar séculos de injustiças"

Neste quadro, os partidos de esquerda agora têm dúvidas sobre se foi mesmo um bom negócio adotar tal agenda de forma tão incondicional. Não deixa de ser o sinal de um desgaste mais amplo da esquerda - a substituição de uma agenda política por uma agenda cultural. No Brasil, o Partido dos Trabalhadores foi quem mais abraçou essa nova linha de ação. Voltando um pouco no tempo, tudo começou com o Politicamente Correto, e frutificou com o chamado Marxismo Cultural, muito em voga no primeiro govverno do PT, quando foi amplamente reverberado por militantes e ONG´s apoiadas por este partido.

No entanto, a adoção do Marxismo Cultural foi responsável por um fenômeno até certo ponto surpreendente, e indiscutivelmente ruinoso para a esquerda - o afastamento de amplo público das periferias, que passou a aproximar-se de líderes religiosos vinculados a partidos de direita. Isso aconteceu porque aquela população viu seus valores tradicionais vilipendiados pelo discurso dito progressista, mas que não representava seus anseios, ao passo que os pastores forneciam um discurso que fazia sentido conforme as crenças e valores daquelas pessoas.

Um erro de pontaria tão crasso necessita de uma explicação, e a explicação é uma só: a idealização feita pelos intelectuais militantes sobre aquilo que o povão é, ou deveria ser. Esses intelectuais militantes vieram quase todos da classe média e do meio estudantil universitário, e nunca conviveram com a população pobre. O povo das periferias é basicamente conservador, não compreende conceitos sociológicos complicados, no lugar destes prefere assimilar a mensagem dos religiosos, para a qual basta crer. Aquilo que mais aflige o povo das periferias, como criminosos e drogas, é justamente aquilo que os intelectuais militantes mais defendem. Não admira que esse segmento da população tenha pendido em massa para a direita, que promete endurecer contra o crime e a imoralidade.

A esquerda agora precisa fazer o caminho de volta, de uma agenda cultural para uma agenda política.