Quem tem a minha idade sabe que o Brasil já foi o país do futuro. Junto com a China. A palavra mágica era industrialização. Usava-se a designação "país industrializado" como sinônimo de "país desenvolvido", e parecia fazer sentido.
Mas se o futuro da China virou presente, nós continuamos no passado. Apesar de vários planos, nossa industrialização sempre trava, e por vezes, até regride. O percentual da indústria no PIB segue em declínio à medida em que o agronegócio rende divisas cada vez maiores. Fica a impressão de que o Brasil entrou em um severo ciclo de desindustrialização antes de se tornar plenamente industrializado. Esse vídeo mostra um discurso da falecida economista Maria da Conceição Tavares procurando explicar porque a nossa industrialização sempre trava. Parra ela, o problema é estrutural:
"O país nunca conseguiu articular, ao mesmo tempo, forças produtivas, tecnologia, trabalho e financiamento. Sem essa integração, não há ciclo endógeno de desenvolvimento nem autonomia para avançar no sistema econômico internacional. [A industrialização] exige um ciclo longo, articulado e contínuo, que é interrompido pelo financiamento externo e pela incapacidade de combinar progresso técnico, organização produtiva e estrutura financeira"
Trocando em miíudos, faltou um dirigismo mais abrangente da parte do Estado. Mas voltando os olhos ao passado, eu noto que só houve um esforço consistente para a industrialização do país até o fim do século 19, quando aportaram aqui imigrantes empreendedores que criaram indústrias sem apoio nenhum do Estado. Depois que o Estado tomou para si a tarefa de fomentar a industrialização, caímos nos "ciclos incompletos", simplesmente porque os empresários aprenderam a depender do Estado, e não de si próprios. Acabava o fomento e o protecionismo do Estado, voltava-se à estaca zero. Foi assim com a reserva de mercado para a informática. Foi assim com a fábrica Gurgel, que só subsistiu enquanto as importações eram proibidas. Gurgel fez um carro popular genuinamente brasileiro? Muito bem! Mas então, por que Gurgel não deu o passo seguinte, e desenvolveu um veículo básico com carroceria metálica e motor de 4 cilindros, apto a competir com os básicos das multinacionais? Ninguém responde.
Então, para o empresário nacional, a fórmula do sucesso não é a qualidade do produto nem o bom preço, mas sim as boas relações com os homens da política. Aquele esquema: empresas nacionais produzindo para empresas estatais obrigadas a só comprar produto nacional. Isso é o mesmo que tirar dinheiro do bolso esquerdo e colocar no bolso direito. Como todo dono de botequim sabe, o que o enriquece é o dinheiro que sai do bolso do freguês e entra no dele. Em outras palavras, produzir para o mercado e ser competitivo.
Mas também fica a dúvida se nessa altura da história, a industrialização ainda vale a pena. Afinal, muitos países industrializados do passado têm passado por um processo de "desindustrialização" à medida em que o setor terciário (serviços) cresce e substitui o setor secundário (indústria). Esse fenômeno tem se verificado no Brasil também. Mas apesar de nosso PIB ter sua porção majoritária no setor primário (agricultura), isso não significa que a agricultura absorve a maior parte da mão-de-obra. Ao contrário, a população nos campos tem diminuído ano após ano. É fato que nossa agricultura tem se modernizado e crescido consistentemente em produtividade, o que não se faz sem tecnologia. É também significativo que o percentual da indústria no PIB tenha atingido seu índice máximo lá pelos meados dos anos 80, que como se sabe, foi o pior momento de nossa economia, com recessão e hiperinflação. Atualmente, a própria designação "país industrializado" como sinônimo de "país desenvolvido" parece um tanto gasta.
Penso eu, se perdemos o trem da História, resta procurar outra condução. Melhor do que ficar para sempre procurando explicações para nossa industrialização travada.
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