Mais proveitoso do que discutir essas questões, é conceituar de maneira isenta o problema da imigração ilegal. Que na verdade não é um problema, mas uma característica indelével do mundo moderno - historicamente, fluxos migratórios são fenômenos persistentes, e não o resultado de crises ocasionais. Só podem ser entendidos à luz da ciência econômica, a Lei da Oferta e da Procura. Alguém quer dar emprego àqueles imigrantes. A situação geral do terceiro mundo, hoje, não é pior do que era a trinta ou cinquenta anos atrás, foi o primeiro mundo que mudou - antes, havia oferta de mão-de-obra local para as ocupações hoje dadas a imigrantes, agora esta oferta desapareceu. A engrenagem-mor deste processo é a transição demográfica, que fez cair o número de nascimentos e escasseou a oferta de mão-de-obra para trabalhos menos especializados, que tradicionalmente são feitos pelos mais jovens e menos experientes. Os imigrantes vem ocupar esses nichos.
Mas quem são, afinal, esses imigrantes?
A princípio, indivíduos pobres, perseguidos políticos ou fugitivos da violência. Mas os imigrantes oriundos do Brasil parecem ter um perfil diferente, a julgar por este artigo. A entrevistada não é pobre, é formada em administração e largou um emprego em uma multinacional. Sei de brasileiros que pagaram a contrabandistas até cem mil reais, quantia suficiente para inicar um pequeno negócio no Brasil. Entendo que os imigrantes brasileiros tenham um nível sócio-econômico mais alto que os centro-americanos, pois estão bem distantes da fonteira dos EUA e têm que pagar muito mais. Mas se continuam a fazer isso, então é preciso concluir que o que recebem compensa o que pagam - há muita gente ali interessada em lhes dar emprego, como o patrão trumpista da entrevistada.
Mas se a imigração é fenômeno antigo nos EUA, as coisas não são mais como antes. É digno de nota que a entrevistada, embora afirme trabalhar na área financeira, não deixa de fazer serviços de babá. Nos tempos da Estátua da Liberdade, os imigrantes subiam rapidamente e se integravam à sociedade. A diferença vem do fato da atual imigração ter como motor a transição demográfica, que ao mesmo tempo que encurta a oferta local de mão-de-obra pouco qualificada, aumenta a presença de indivíduos mais idosos e já estabelecidos no mercado - as vagas para esses empregos de mão-de-obra bem qualificada continuarão exclusivas para os americanos de velha cepa. A consequência é a formação de um vasto setor da população descendente de imigrantes que permanecem não integrados, dando origem a tensões sociais.
O atual fenômeno migratório só pode ser compreendido se abordado pelos prismas econômico e demográfico. Se os norte-americanos quisessem mesmo se livrar dos imigrantes, bastaria que começassem a lavar pratos em lanchonetes, recolher lixo, fazer faxinas e cuidar de crianças. Então não seria necessário deportar os estrangeiros, eles iriam embora por conta própria por não terem emprego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário