As notícias relatando protestos de rua em Cuba causaram-me surpresa. Não foi muitos dias atrás, e alguns apressados até comemoraram a próxima queda do regime iniciado por Fidel Castro, mas até agora ninguém sabe dizer exatamente o que aconteceu, nem como terminou. O fantástico, porém, foi aqueles protestos haverem acontecido, pois não é todo dia que se vê uma coisa assim em um regime comunista, e tampouco jamais alguém viu um regime comunista ser derrubado por protestos de rua.
O caso é que há ditadura perfeitas, assim entendido por não ser possível derrubá-las por intermédio de uma revolução. Elas caem por outros motivos. Outro exemplo foi o regime nazista, que a despeito de todas as suas atrocidades, e de toda a sua disposição de prosseguir com uma guerra perdida que causava enorme sacrifícios a sua população, jamais foi derrubado por uma revolução. Extinguiu-se com a derrota da Alemanha na guerra. Bem diferente do que acontecera em 1918, quando a mesma população, saturada dos sacrifícios impostos pela guerra, sacrifícios esses incomparavelmente menores do que aqueles sofridos em 1945, rebelou-se e pôs fim ao regime do Kaiser. Contando que o mesmo fosse acontecer na 2a Guerra, os aliados impuseram massivos bombardeios sobre a população civil alemã. Mas o que aconteceu foi o contrário: cada vez mais dependente do amparo do Estado, a população dedicou cada vez mais apoio ao governo, repetindo aliás o mesmo que havia acontecido quando a Inglaterra foi bombardeada em 1940.
O regime comunista soviético tampouco foi derrubado por uma revolução: desabou sozinho feito prédio condenado quando pedreiros imprudentes tentam fazer uma reforma de emergência. O que há em comum entre todas essas "ditaduras perfeitas"? Respondo eu: a redução do indivíduo a um estado de total dependência do governo. Ensina a História que revoluções bem sucedidas só acontecem quando está presente na sociedade local uma classe de indivíduos que detêm considerável espaço na economia, porém nenhum espaço na política, o que faz surgir uma demanda por poder. Mas para haver meios de se pressionar o governo, essa classe necessita ter a posse de bens materiais, mesmo que apenas sua força de trabalho. Por este motivo os regimes comunistas são ditaduras perfeitas: qual indivíduo consegue rebelar-se contra quem é, ao mesmo tempo, seu empregador, seu locatário, o dono da escola onde seu filho estuda, do hospital onde ele se trata e do jornal que ele lê? Que fazer quando não se é dono sequer de sua força de trabalho, já que é proibido vendê-la a um patrão?
Não acredito que o regime cubano venha a ser derrubado por uma revolução. O que não quer dizer que ele já não esteja sendo corroído há tempos, por força de sua inviabilidade econômica. Penso que a evolução será a mesma do regime comunista chinês: toda a liberdade ao capital, nenhuma ao indivíduo. O regime chinês, aliás, é outra ditadura perfeita. Com a prosperidade permitida por entrepostos altamente conectados com o mundo capitalista, como Hong Kong e Shangai, e a consequente subida do padrão de vida, a população pôde mesmo adquirir hábitos de consumo típicos do ocidente, sem que o regime político fosse alterado, ou sequer abrandado. Uma bem sucedida imitação do ocidente capitalista, a ponto de atualmente quase ninguém mais se lembrar de que a China é uma ditadura. Perfeita.
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