quinta-feira, 26 de maio de 2016

Afinal, houve golpe de estado?

Não se pode visitar a página de um jornal ou um fórum qualquer da internet sem se deparar com essa palavra-de-ordem repetida vezes sem conta: golpe, golpe, houve um golpe, fulano é um golpista, fora o governo ilegítimo.

Golpe ou não, o governo Temer está aí. Ninguém espera muita coisa dele, mas sua vantagem reside justamente nessa premissa: o que vier é lucro. Pode até surpreender e começar a arrumar a economia, como um segundo Itamar Franco, mas com certeza será apenas um interregno até um novo governo eleito que ninguém sabe qual será. A probabilidade do PT voltar ao poder com Lula é alta. Isso pode ocorrer em duas hipóteses: primeiro, se o governo Temer for um desastre total, tudo piorar e a agitação ganhar as ruas, levando à antecipação das eleições; segundo se, paradoxalmente, o governo Temer for um sucesso, recolocar a economia nos eixos até 2018, e então o PT terá cacife para prometer uma nova era e prosperidade e conquistas sociais, repetindo o cenário de 2002.

Eu particularmente acho que não acontecerá nem a primeira nem a segunda hipótese. O PT está desgastado com o povo desde que seu saco de bondades ficou vazio, e tampouco a crise é grave o suficiente para suscitar atos de desespero como saques e quebra-quebra. Por outro lado, até 2018 é um prazo muito curto para uma recuperação significativa da economia. Mas estou me desviando do assunto. Perguntava-me se o que aconteceu foi ou não um golpe de estado.

Por definição, um golpe é uma batida, uma ação inesperada e rápida. Esse termo não se aplica a um processo que prolongou-se por meses a fio. Muitos dicionários por certo terão sua definição particular de golpe de estado, mas eu penso que a expressão pode ser descrita em poucas palavras como uma investida súbita de um grupo, geralmente minoritário, no sentido de apossar-se dos centros de poder, a fim de controlar o Estado dali por diante. Não foi isso o que aconteceu. O impedimento de Dilma Rousseff pode até ser questionável do ponto de vista jurídico, mas seguiu todos os trâmites previstos na constituição e foi acompanhado pelo STF. Sem contar que é um golpe muito estranho esse em que ninguém foi preso e a presidente até pode continuar usufruindo do palácio.

Isso no entanto não impede que os simpatizantes do governo continuem repetindo que houve um golpe de estado, certamente acreditando na velha máxima de que toda mentira repetida mil vezes transforma-se em verdade. Não é bem isso. O que acontece de fato é que após repetir mil vezes a mentira, o próprio mentiroso passa a acreditar nela.

2 comentários:

  1. O que eu penso é que nas próximas eleições poderá vigorar o que disse Friedricht Nietzsche: "Fiquei magoado não por teres mentido para mim, mas por não poder voltar a acreditar em você".

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  2. Descobri o seu blog há pouco tempo. Já li alguns textos e posso dizer que passarei a ler sempre. Parabens!

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