terça-feira, 17 de maio de 2016

O fim do governo lombrosiano

Na primeira apresentação de Temer e seu novo ministério na TV, foi impossível ignorar uma impressão que tive de imediato, mas que procurei reprimir por achar que não era coisa digna de ser externada. Foi uma impressão de dejà vu. Depois de muito tempo, voltei a ver homens de terno, sérios e educados, discorrendo em português correto sobre questões pertinentes da política e da economia.

Mas o que é isso? Então estou julgando um governo por seu aspecto... estético? Alguém pode imaginar coisa mais idiota? Com certeza eu não devia estar dizendo isso. Mas com certeza outras pessoas também tiveram a mesma impressão, e cumpre verificar se não se esconde aí uma lógica profunda. A era petista foi, antes de tudo, uma era de feiura, de grotesco. Tipos mal ajambrados por toda parte, quando não simplesmente feios de cara, usando linguagem vulgar. Com certeza não devemos julgar o outros conforme sua aparência. Mas os petistas, além de feios e incultos, parecem também obstinados em condenar tudo o que é belo e instruído, até a norma culta da língua, estigmatizada como preconceito e arrogância. Um artigo muito bem escrito ajudou-me a abrir os olhos. Com certeza ninguém é culpado de ser feio, mas bem lembrou o autor, cuja esposa trabalha com um salão de beleza, um bom corte de cabelo, uma maquiagem, uma roupa bem escolhida e, principalmente, a boa vontade podem fazer para transformar o feio em, no mínimo, agradável. Os petistas fizeram o contrário: destacaram a própria feiura tanto quanto possível. E se o fizeram deliberadamente, é porque consideram tal caracterização um traço identitário, de modo a repudiar as convenções burguesas e se parecer com o povão, que na opinião deles, deve ser feio.

Mais do que feios, eu diria que os homens públicos que até pouco dominavam o cenário são tipos lombrosianos. Para quem não sabe, Cesare Lombroso foi um psiquiatra e criminologista do século 19 que desenvolveu a tese de que todo bandido tem cara de bandido. Para fundamenta-la, expôs variados painéis de traços fisionômicos que, segundo dizia, eram indicadores de propensão a um tipo de delito. Hoje em dia tal ideia causa risos, mas também repulsa: não há nada mais politicamente incorreto. E no entanto, todos estão cientes de que a polícia sabe muito bem que bandido tem cara de bandido. Alguma verdade há por aí, ou como diz o ditado popular, debaixo desse angu tem caroço. Eu particularmente sempre achei Zé Dirceu o mais lombrosiano de nossos homens públicos, nunca vi ninguém com tanta cara de safado. O segundo mais lombrosiano é Eduardo Cunha, e isso eu dizia muito antes das denúncias que o fizeram perder a presidência da câmara. Na verdade, qualquer cartaz de campanha eleitoral é um festival de tipos lombrosianos, e ver isso às vezes até me divertia. Procurando uma explicação racional, eu digo que não existe tendência inata ao crime, mas certos vícios que afetam a saúde e acabam impressos na fisionomia das pessoas, sem contar o antigo adágio: os olhos são o espelho da alma...

Parece que por hora o governo lombrosiano deu uma trégua no Brasil. É claro que ter um ministério de homens bem vestidos e bem educados, por si só não é garantia de um bom governo. Mas com certeza é um bom começo. Tanto que já tem gente se queixando por aí que o ministérios de Temer só tem brancos e não tem mulheres. Mas o ministério de Temer tem a mesma cara de qualquer diretoria de grande empresa: homens de meia idade, brancos e com boa formação. Obviamente essa não é a cara do país, mas os indivíduos mais capacitados para altas funções costumam ter essa cara. Isso é produto de nosso quadro social e educacional, que dificulta a indivíduos de outros grupos ter o preparo e as ligações necessárias para ascender a posições de poder. Simplesmente criar cotas para esses indivíduos desfavorecidos é fazer uma falsificação, um embuste, pois as causas estruturais que dificultam a tais indivíduos ascender pelas vias normais continuam existindo. Nenhuma farsa dura para sempre, e é sempre agradável a sensação de dejà vu que se segue a cada farsa desfeita.

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