quinta-feira, 12 de março de 2015

É viagem, ou a história se repete?

Impeachment, impeachment, impeachment, estou ouvindo essa palavra a toda hora. Não acredito em impeachment de Dilma Roussef, pois rigorosamente falando, isso não interessa a ninguém, posto que o mais vantajoso para os opositores é deixar a presidente se queimar até o toco, de modo que a eleição de 2018 seja disputada com um PT beijando a lona. Se Dilma sair, quem a substituir vai ter que segurar o rojão - e ninguém está a fim.

É possível, contudo, que uma hora Dilma seja forçada a renunciar, e isto seja exigido pelo próprio PT, que em breve estará engajado na campanha de Lula para 2018 e será crucial não permitir que a imagem elameada de Dilma suje a imagem imaculada de Lula. Engana-se quem julga que Lula sai perdendo com a queda de Dilma - ele é uma liderança carismática, baseada em sua própria pessoa (ou mais exatamente, no personagem que ele criou) então sempre soube desvincular a pessoa do partido. Lula é Lula, o PT é o PT. Acredito que, em determinado momento, Lula vai anunciar seu rompimento com Dilma, dizer que a culpa foi toda dela e que ele não sabia de nada, e lançar sua candidatura. Comparando os tempos bons de Lula com os tempos maus de Dilma, o eleitorado vai desejar ardentemente a volta dos bons tempos, e pode dar a Lula uma espetacular vitória. Assim, ironicamente, o debacle de Dilma e do PT, tal como o movimento de uma gangorra, pode servir para alavancar o retorno triunfal de Lula à presidência.

Mas falava de impeachment, e minha memória trouxe-me de volta ao tempo em que eu escutei pela primeira vez essa palavra: era 1974 e eu era garoto. O todo-poderoso presidente americano, Richard Nixon, estava ameaçado de um impeachment e terminou por renunciar. Estou notando curiosos paralelos entre este episódio e o momento político atual do Brasil - será que a História é reencenada com diferentes atores em diferentes teatros, em épocas distintas? Pouco antes, Nixon estava ultra desgastado em razão da guerra do Vietnam, e as eleições de 1972 estavam chegando. Mas sendo ele uma raposa velha tão esperta quanto o nosso Lula, subitamente anunciou como sua plataforma o fim imediato da guerra. De um instante para outro, todas as expectativas se inverteram e Nixon obteve uma das vitórias mais acachapantes da história norte-americana.

Mas dois anos depois, ele caía, vítima de um impeachment...

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