sábado, 13 de setembro de 2014

Não queria comentar, mas...

Quando ocorreu esse episódio da torcedora que chamou um jogador de macaco, não dei nenhuma importância. Não sou racista, e há muito não acompanho mais futebol. Não pensei que seria matéria para comentar em meu blog, mas diante da repercussão do caso, cujo último desdobramento foi um incêndio criminoso na casa da moça, concluí que estava diante de um fenômeno que valia, sim, a atenção geral.

Em primeiro lugar, é claro que chamar alguém de macaco é uma grosseria, além de óbvio racismo. Mas todos estão cansados de saber que torcedores em um estádio desde priscas eras sempre gritaram todo o tipo de grosseria. Nos tempos em que eu frequentava estádios, era comum ouvir-se o coro chamando o juiz de FDP sempre que ele marcava algo que prejudicava nosso time - e no entanto, jamais ouvi falar de alguma mãe de árbitro de futebol que algum dia houvesse entrado com uma ação por calúnia contra algum torcedor!

Parece-me evidente que as palavras ditas em estádio durante uma partida não devem ser julgadas da mesma maneira como se fossem ditas em outro local e em outras circunstâncias. A impressão geral foi que a reação contra a infratora foi desproporcionalmente severa. O que isso significa? Estaremos ficando mais civilizados e intolerantes com agressões de qualquer natureza? Se for verdade, isso é bom: o racismo é repulsivo, e deve, sim, ser reprimido. Mas o fato é que a reação enérgica contra o racismo convive sem problemas com uma ampla indiferença quanto a episódios muito mais violentos e imorais que ocorrem todos os dias. Daí que eu conclua que estamos diante de outro fenômeno: a instrumentalização dos ressentimentos humanos.

É sabido que grupos diversos de indivíduos considerados oprimidos por alguma razão têm se unido e organizado de forma espontânea, a fim de defender-se e expor suas reivindicações. Não há nada de errado ou estranho quanto a isso. Mas de uns tempos para cá, essa organização tem sido cada vez mais instrumentalizada por ONG´s e por partidos políticos - são os "movimentos sociais" da autodenominada sociedade civil organizada. De um lado, isso é bom para os movimentos, pois provê de verbas e de publicidade àqueles que antes dependiam apenas de si próprios. Mas de outro lado, transforma esses movimentos em um mero público ao dispor das ONG´s e partidos que os financiam. A reação desproporcional contra o procedimento da torcedora, portanto, não é prova de que estamos ficando menos racistas, e sim prova de que os grupos que combatem o racismo estão ficando mais fortes, uma vez que os movimentos negros, tal como tantos outros - gays, sem terra, sem teto, índios, etc. - têm sido cooptados por partidos e ONG´s, e como tal, têm ganho respaldo cada vez maior dos poderes públicos. Mas conforme afirmei, esse ganho de poder corresponde a uma crescente instrumentalização dos ditos movimentos - eles devem servir a quem os banca, certo? Aí o futuro é incerto. A criatura vai se voltar contra o criador? O criador vai suprimir a criatura quando não mais necessitar dela?

O futuro o dirá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário