quinta-feira, 27 de março de 2014

O PT estica o elástico, mas não o arrebenta

Quem me acompanha pelas sendas da net deve estar ciente de que não morro de amores pelo PT. Mas nesses tempos de polarização ideológica, verdade que menos no mundo real do que no mundo virtual, onde cada um se sente poderoso ao se entrincheirar em um blog qualquer, é preciso sobretudo evitar o impulso gregário de juntar-se a sua turma e repetir o discurso padrão. E hoje, para variar, vou falar bem do PT.

É certo que pouco pode ser dito de bom sobre o PT, mas uma coisa, ao menos, deve ser lembrada: o PT é pragmático. Ou ao menos a cúpula, que é o essencial. A toda hora leio comentaristas em pânico jurando que o PT pretende transformar o Brasil em um nova Argentina, uma nova Venezuela ou uma nova Cuba, mas sinceramente não acredito nisto. É preciso atentar para as diferenças: os regimes chavista, kirschnerista e fidelista são sustentados por uma militância armada e pronta a agir. A militância do PT é desarmada e mantida entretida pelo chamado marxismo cultural. A força da militância petista é a propaganda, pois o PT depende de eleições para manter-se no poder, e por mais que seus líderes repitam nos palanques chavões da juventude, eles sabem muito bem que a única verdadeira base da atual hegemonia petista é a estabilidade da economia herdada dos tucanos, que permite ao pobre comprar uma geladeira nas Casas Bahia pagando em 15 vezes. Foi esta expansão do crédito, consequência do fim da inflação, a verdadeira causa do aumento do poder de compra experimentado pelos mais pobres na última década, pois de resto os salário subiram muito pouco, e as tão faladas bolsas, infladas pela propaganda, na realidade só beneficiam algumas camadas muito pobres da população. Por isso eu digo: o PT estica o elástico, mas não o arrebenta. Pois sabe muito bem que se exagerar e deixar a inflação voltar, aí babau e não estou falando do cacique Babau: a carruagem volta a ser abóbora e os milhões que passaram à classe C voltam à classe D.

Enquanto faz malabarismos para manter a macroeconomia herdada de FHC, o PT utiliza o chamado marxismo cultural como válvula de escape para a base militante, tal como no passado os militares usaram o marxismo universitário como válvula de escape para impedir que os esquerdistas aderissem à luta armada. Tanto em um caso quanto em outro, as consequências a longo prazo podem ser vastas.

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