Desde a aparição do fenômeno Bolsonaro, eu venho dizendo: seu governo só terá chances de sucesso se Bolsonaro deixar seus assessores governar. Se quiser mandar sozinho, o país será lançado em um rumo incerto, que pode terminar naquele conhecido roteiro, pelo qual o país expele corpos estranhos que de tanto em tanto se imiscuem em seu organismo político: refiro-me a Jânio Quadros em 1960, Collor de Mello em 1990, e no meio do caminho, Paulo Maluf em 1984, este expelido antes mesmo de se tornar presidente. Em comum, todos tiveram uma trajetória meteórica de ascensão e queda, tendo chegado ao centro do poder com um discurso anticonvencional, e desligados dos partidos políticos dominantes no momento. Bolsonaro será o próximo? Muitos apostam que sim.
Jair Bolsonaro teve raízes obscuras. De deputado do baixo clero, mais conhecido por seus bate-bocas de baixo calão, tornou-se presidente, mas não mudou de estilo: continua afeito a polêmicas estéreis, agora com seus assessores. Essas polêmicas quase sempre resultam em condenação no país e no exterior. Entre os que votaram nele, fica a sensação de que seu presidente faria melhor ficando de boca calada, e seus adversários ficam em júbilo pelo desgaste que ele próprio causa a sua figura.
Mas Bolsonaro não é para ser subestimado. É o que diz este artigo, escrito pelo brasilianista Anthony Pereira nos EUA (nos momentos de violenta polarização interna, o olhar vindo de fora é sempre oportuno).
"Não quero subestimar Bolsonaro como fenômeno político. O bolsonarismo é uma força orgânica no país"
Bolsonaro pode estar desgastado, mas ainda conta com respeitável percentual de aprovação, e o mais importante, seus apoiadores são fiéis. Sua ruptura com Moro foi o lance final da disputa entre o bolsonarismo e o lavajatismo, duas correntes que muitos julgavam parte da mesma linha política, mas que na verdade sempre foram distintas e independentes: o bolsonarismo mais preocupado com questões culturais e ideológicas, o lavajatismo querendo a continuação das investigações contra a corrupção.
É arriscado prever como essas duas correntes vão se comportar agora. O governo Bolsonaro terá, sem dúvida, um estremecimento, mas não é sabido se Moro ficará nas sombras, ou se emergirá como candidato à sucessão. Com o país imobilizado pela pandemia do Coronavírus, em compasso de espera, o melhor a fazer é esperar antes de fazer previsões. Em todo caso, a História está aí para servir de referência.
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