O entendimento dos fenômenos consiste em identificar similaridade onde tudo parece diferente, e perceber diferenças onde tudo parece igual. Assim sabemos que um camundongo é parente de uma capivara, e não de uma toupeira. No estudo da História, deve-se notar quando certos eventos se repetem, e procurar compara-los após remove-los de seu contexto específico.
A discussão é antiga. Uns dizem que a História se repete, outros dizem que são os historiadores que se repetem uns aos outros. Mas observando as recentes manifestações estudantis anti-Bolsonaro, não pude deixar de lembrar de outro maio, o de 1968. Há alguma semelhança após 51 anos?
O senso comum afirma que manifestações anti-governo ocorrem em momentos de crise, quando a população está obviamente insatisfeita. Mas não foi assim em maio de 1968. A explosão de descontentamento da juventude de então decorreu do surto de prosperidade do pós-guerra, que fez aumentar enormemente o número de estudantes universitários, os quais, pela primeira vez, puderam tornar-se protagonistas da História. Sentindo-se emponderados, eles clamavam por hedonismo. Queriam vida boa e acesso ao dormitório das meninas, ao invés da vida dura de trabalhar desde cedo sob as ordens dos pais. A aliança que no primeiro instante formou-se entre o movimento estudantil e os trabalhadores logo mostrou-se um mal entendido. Hoje aquele pessoal parece um bando de românticos inconsequentes.
Guardadas as proporções, algo semelhante ocorreu no Brasil em 2013, quando o país foi sacudido por um surto de manifestações tão violentas quanto inesperadas. Tinha ocorrido um período de prosperidade nos anos anteriores, o que fez despertar muitas expectativas. A decepção explodiu quando o povo se inteirou do engodo do governo Dilma.
Diferentemente de 1968 e 2013, as manifestações estudantis agora ocorrem, coerentemente, em um momento de retração econômica com cortes diversos. Mas o discurso parece requentado. E não se observa aliança entre trabalhadores e estudantes. Sabe-se que o movimento estudantil, desde muito, tem sido monopolizado por determinados partidos políticos, já nada tem de romântico ou inconsequente. Diante deste quadro, é impossível não pensar na acusação que foi feita por Bolsonaro: serão todos um bando de idiotas úteis?
Quem viver, verá.
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