terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Marxismo Cultural, ele existe?

Certas palavras estão inefavelmente ligadas a certas épocas e locais. Um termo que parece muito ligado e que pretensamente explica o momento político atual é Marxismo Cultural. O governo e os direitistas acusam o PT e a esquerda de promover tal coisa com o fim de demolir os valores tradicionais da população e assim engendrar uma espécie de revolução cultural que transformará todos em dóceis militantes. A esquerda obviamente nega que tal coisa exista.

Diz o verbete no wikipedia:

"Marxismo cultural é uma teoria da conspiração difundida nos círculos conservadores e da extrema-direita estadunidense desde a década de 1990. Refere-se a uma suposta forma de marxismo, alegadamente adaptada de termos econômicos a termos culturais pela Escola de Frankfurt, que teria se infiltrado nas sociedades ocidentais com o objetivo final de destruir suas instituições e valores tradicionais através do estabelecimento de uma sociedade global, igualitária e multicultural"


Historicamente, o termo introduziu-se no âmbito acadêmico na década de 1930. Os teóricos da Escola de Frankfurt, assim como Marx, consideram que a cultura é inseparável de seu contexto social, econômico e político e, portanto, deve ser estudada levando em conta o sistema e as relações sociais que a produzem. No ambiente acadêmico do Brasil, como tudo o mais, só chegou bem mais tarde. Nos anos 60 ninguém falava disso, e até se acreditava em revolução armada. Mas como temos o vício antropofágico de deglutir e dar uma feição peculiar ao que vem de fora, e é certo que palavras, mesmo vazias, de tão repetidas podem mesmo materializar conceitos, o marxismo cultural ganhou vida e recebeu uma acepção própria entre nós. É produto da progressiva substituição dos trabalhadores pelos lúmpens como o público revolucionário por excelência, fenômeno que vem desde o final do século passado, mais exatamente desde o fracasso da luta armada, que não teve o apoio dos trabalhadores.

Uma vez que os trabalhadores aderiram ao capitalismo, então os militantes procuraram seu novo público entre os marginais da sociedade, aqueles a quem Marx denominava lúmpen-proletariado, e afirmava serem imprestáveis como revolucionários. A coisa funciona assim: onde quer que exista um grupo de indivíduos desfavorecidos em algum conflito, antissociais, desajustados e inconformistas, os militantes vão lá e buscam a sua adesão, mesmo que o conflito no qual eles estão envolvidos não tenha nada a ver com luta anticapitalista. Com este fim, produzem um discurso que se convencionou chamar de marxismo cultural.

Mas esse discurso causa imensa repulsa nas massas populares, em geral religiosas e conservadoras em termos de costumes, e tem sido a causa principal do divórcio entre o eleitorado trabalhador e a esquerda.

Ao fim e ao cabo, vemos que Marx estava de todo certo ao considerar os lúmpens imprestáveis como revolucionários. Embora eles afrontem a ordem burguesa com sua conduta antissocial, por outro lado são facilmente cooptados pela burguesia, em razão de seu caráter venal. Através da História, os burgueses sempre compraram os lúmpens por poucos tostões, inclusive para jogá-los contra os trabalhadores.

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