terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Qual vai ser a reencarnação do PMDB?

Falar das próximas eleições é falar de História?

Sim, desde que se conheça a gênese dos partidos políticos. Quem conhece, não se espanta com certos fenômenos, pois é tudo dejà vu. Certos partidos políticos são a reencarnação de outros partidos do passado. É o caso do PMDB, que não lança candidato próprio faz 30 anos, mas está no poder desde sempre. O PMDB, como se sabe, é a reencarnação da velha ARENA implodida quando da eleição de Tancredo Neves, a qual, por sua vez foi a reencarnação do velho PSD, que por sua vez foi a reencarnação de velhos partidos da república velha. Em comum, todos esses partidos têm a ausência de ideais autônomos e o oportunismo de fazer conchavos que atendam a interesses provincianos, corporativos ou meramente pessoais de seus integrantes. Parece desprezível, mas são precisamente esses conchavos que permitem o que se chama a governabilidade. Em outras palavras, significam que o partido que está nominalmente no poder pode governar de fato, posto que assim se cria uma teia de compromissos que mantém colaborativas ou pelo menos quietas em seu canto todas as forças capazes de influir na política. Alguns presidentes, como JK, foram especialmente habilidosos em tecer essa teia, outros nem tanto, mas todos dependeram da existência de um partido que aglutinasse aqueles que não tinham ideais, apenas interesses.

Esse partido precisa existir, pois sem ele as peças do jogo político não se movem. É o chão da política, por assim dizer. É sujo? Sim, mas ser sujo é da natureza de todo chão, assim como é da natureza do chão sustentar o que se constrói sobre ele. E devemos admitir, o PMDB tem executado bem essa função nos últimos trinta anos. Sem fazer alarde, sustentou o bipartidarismo PSDB & PT que sucedeu ao colapso do nacional-estatismo autoritário e bem ou mal tem feito o país funcionar desde o Plano Real. Mas nada é para sempre, e como dizem os alemães, tudo tem um fim, exceto a salsicha, que tem dois. Revendo o passado, todos os partidos que correspondem às reencarnações passadas do PMDB um dia implodiram. E observando o quadro atual, com a crise, os escândalos e as prisões de seus principais dirigentes, a mim não fica dúvida: o PMDB acabou. Pode até estar nominalmente no poder, mas tem o presidente com menor índice de aprovação da história, sem a mínima possibilidade de fazer seu sucessor. Pode até ser majoritário no legislativo, mas não tem mais lideranças capazes de mobilizar seus próprios deputados a votar em projetos do governo, se é que estes ainda existem.

Sem o PMDB para formar o chão, o quadro eleitoral torna-se instável, e aparecem os arrivistas, outra tendência atávica de nossa política, já abordada por mim em outros artigos. Conhecemos bem as consequências a longo prazo desses arrivistas no poder, mesmo que tenham nele permanecido por pouco tempo. É improvável que o bipartidarismo PSDB & PT vá continuar, mesmo porque tampouco PSDB e PT são os mesmos. Fica a indagação: quem será a reencarnação do PMDB, que irá proporcionar uma nova era de estabilidade política?

Um candidato a este papel  é o PSDB, um abortado partido social-democrata que se tornou liberal por força da circunstâncias, que até ontem fez par com o PT, um abortado partido bolivariano que se tornou social-democrata por forças das circunstâncias. O PSDB bem poderia descer mais um degrau e tornar-se conservador, reencarnando o PMDB. Mas retornando ao exemplo da História, convém lembrar que a encarnação passada da velha ARENA não foi a UDN, partido opositor aguerrido, e sim o PSD, partido de conchavos. E nos últimos anos, mais precisamente desde a primeira eleição de Lula, o PSDB tem sido mais uma UDN renascida, posto que foi única oposição declarada ao governo petista, mesmo que nem de longe tão ferina quanto a dita cuja. Para quem foi UDN, parece tarde para ser PSD. Sem renovação em suas lideranças, o PSDB periga cair na irrelevância e deixar o campo livre para o PT, que está bastante abalado, mas ainda tem Lula na liderança das intenções de voto. Mas como será um futuro governo do PT sem o PMDB para lhe garantir a tão necessária governabilidade? Periga fazer o caminho oposto, e de social-democrata passar a bolivariano, isso se tiver força. Se não tiver, suprema ironia, periga do próprio PT tornar-se a reencarnação do atual PMDB, devidamente amansado e sanitizado, tornado viveiro de políticos profissionais.

O ano que vem dará as respostas.

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