domingo, 12 de novembro de 2017

Brasil x Argentina: eu sou você amanhã?

Chamamos aos argentinos de "los hermanos" com um pingo de ironia. O paralelismo entre os acontecimentos no Brasil e na Argentina é um fenômeno histórico curioso, e por vezes embaraçoso. Certos ciclos por que um país atravessa parecem se repetir no outro, como se fosse uma imitação. Foi assim com o peronismo, que aqui se chamou getulismo. Mais tarde o casal Nestor e Cristina Kirshner seria mimetizado pelo "casal" Lula e Dilma, e quando tanto os primeiros quanto os segundos saíram do governo, pode-se afirmar que Michel Temer é o nosso Macri. Essa última comparação torna-se instigante agora que parece que Macri está obtendo uma recuperação econômica consistente e obtendo apoio popular para seu projeto, em substituição ao nacional-populismo, então Temer devia fazer o mesmo aqui.

Mas até onde são procedentes esses paralelos?

Não gostamos de ser considerados imitadores dos argentinos, que não sem motivo nos chamam de macaquitos. A rivalidade entre brasileiros e argentinos é evidente, mas também folclórica, pois é uma rivalidade pueril, muito canalizada para as disputas futebolísticas. É outra coisa quando a rivalidade surge em decorrência de um passado de guerras e confrontos. Sabemos que, no fundo, não somos muito diferentes um do outro. Mas até onde vai essa semelhança, afinal?

A comparação entre Perón e Vargas, eu considero uma simplificação grosseira. Há um paralelismo óbvio quanto ao contexto histórico, político e econômico em que ambos surgiram: fim do domínio das oligarquias rurais, urbanização, transição de uma economia agrária para industrial, centralismo e dirigismo, influências do fascismo europeu e do comunismo. Mas quanto ao estilo pessoal, não há muito em comum além de ambos terem sido autoritários. Perón foi um populista assumido que se apoiava em uma rede de sindicatos atrelados ao governo. Vargas foi acusado de ser um populista e de querer montar uma "república sindicalista" nos moldes peronistas. Décadas depois, a comparação parece estar mais calcada naquilo que Vargas foi acusado de ser, do que naquilo que ele efetivamente foi.

Na economia, também há paralelismo. Nos anos oitenta, o plano austral lá e o plano cruzado aqui, ambos fracassados e terminados em hiperinflação. Depois o Plano Cavallo lá e o Plano Real aqui, bem sucedidos inicialmente. Depois a comparação diverge. O Plano Cavallo terminou em crise, e a inflação voltou sob os Kirshner, ao passo que aqui o Plano Real, bem ou mal, sobreviveu e foi mantido pelo governo que sucedeu seu criador (ou pelo menos, esse governo não conseguiu se livrar dele).

A volta do nacional-populismo no início do século 21 também se enquadra em um contexto político e econômico similar por que ambos os países passaram: o esgotamento do ciclo dito neoliberal, que acabou com a inflação; o saudosismo do estado grande, o boom das commodities que permitiu medidas de alcance social. Mas há uma diferença importante: na Argentina, a herança do peronismo foi encampada por um partido político sólido e unido, enquanto que aqui os partidos trabalhistas se fragmentaram e vários se proclamam herdeiros do varguismo. Os Kirshner, na Argentina, adotaram medidas discricionárias que o PT nunca teve força para adotar aqui. Por outro lado, a queda do kirshnerismo se deu por uma eleição regular, enquanto aqui a queda do petismo se deu por impedimento da presidente.

Mas voltando à pergunta feita de início, Temer vai repetir o sucesso que Macri está tendo no momento atual, fazendo seu sucessor dentro de um projeto consistente e oposto ao nacional-estatismo? Primeiro de tudo é preciso lembrar que Temer é um herdeiro do governo anterior, do qual foi vice-presidente. Nunca foi eleito, nem tem uma base parlamentar sólida. As ideias estão no ar, mas falta um líder que as concatene. Se teremos um Macri brasileiro, este só vai surgir na eleição de 2018. Ou então teremos que escolher entre Lula e Bolsonaro.

3 comentários:

  1. Olá, Sr. Mundim! Bom ver novos posts!

    Imagino que devido á similaridades culturais, ambos países lidariam com problemas similares. Obviamente, a diferença cultural torna suas soluções peculiares. Por exemplo, a questão Federalismo vs Unitarismo.

    Não sou um fã de Temer, mas acho que após o Impeachment, o ex-governo atual oposição tratou de criar uma ficção de que foi o atual presidente o responsável pela crise, e que está é "politica" e causada pelo Impeachment.

    A culpada pela crise é claramente a ex-presidente, Dilma Rousseff. E o povo não esquecerá.

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  2. Continuando: Se Temer vai ou não vai fazer seu sucessor, depende de quem se considera essa pessoa. Por exemplo, a atual politica economica não é responsabilidade do presidente Temer, que aliás fez várias medidas inadequadas para uma época de austeridade e severidade - aumentos para servidores e uso de MPs e quetais como suborno para parlamentares lhe ajudarem contra o seu Impeachment.

    A atual politica economica é responsabilidade do atual ministro da fazenda, Henrique Meirelles. Talvez seja a coisa mais próxima de um "sucessor" de Temer, e parece estar apelando para centro-liberais. Ele próprio já admitiu ser presidenciável. A questão é se ele vai topar ser candidato à presidente, ou compor chapa pra vice com outro candidato, e considerando que ele está bem no centro, pode ser qualquer um.

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  3. O povo sempre soube que a culpada pela crise era a Dilma, tanto que assistiu indiferente ao impedimento dela. Mas Temer não tem apoio para fazer um sucessor. O Brasil só vai destravar após a eleição de 2018. O problema é que os resultados dessa eleição são incertos e até assustadores.

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