O panorama atual parece garantir que o passado passou. A Era PT teve começo, meio e fim, e não apenas ela, mas todo um modo de fazer política parece estar sendo soterrado por escândalos e investigações. Mas não se divisa o futuro. Não se vê a luz no fim do túnel. Nenhuma nova liderança, nova corrente ou novo partido surge na esquina - nem mesmo aqueles arrivistas que costumam aparecer nos momentos de crise. Um bom exemplo dessa atual incapacidade de andar para a frente é o fato de que o candidato com mais intenções de voto para 2018 é o ex-presidente Lula, apesar da convicção generalizada de que ele já cumpriu o papel que tinha a cumprir na História brasileira. Nesse cenário, foi surpreendente ler esse artigo de Demétrio Magnoli, notório desafeto do PT, clamando para que Sérgio Moro ande devagar e não impeça Lula de concorrer às próximas eleições.
Não corra, Moro: o Brasil precisa da candidatura de Lula
A esquerda que clama pela volta do ex-presidente abdicou do sistema econômico socialista, mas continua seduzida pelo monopólio do poder por um “partido dirigente”. A catástrofe venezuelana não merece uma linha de protesto dos fabricantes de manifestos. O Brasil precisa da candidatura de Lula para derrotar, no debate eleitoral, o conceito de que só merecem repúdio as ditaduras de direita
Surpreendente não pelo conteúdo, mas pela coragem de dizê-lo, pois eu próprio já compartilhava essa opinião desde muito: o país precisa da candidatura de Lula em 2018 para que a nossa História enfim destrave.
Lula converteu-se em representação de um Brasil que se recusa a romper com o passado e de uma esquerda hipnotizada por utopias regressivas de segunda mão
Concordo: Lula não é o futuro, mas é a sombra do passado que paira sobre o presente. Diante da pasmaceira do cenário atual, muitos haverão de sentir saudades dos vibrantes anos de Lula. Sabemos que os bons resultados na época deveram-se a uma conjunção de fatores positivos para nossa economia, embora não se deva negar o mérito de Lula em optar pelo pragmatismo e pela manutenção da macroeconomia herdada do Plano Real, que garantiu a estabilidade e permitiu ao país usufruir dos ventos favoráveis. Reconhece Demétrio, Lula é um pragmático, e não um ideólogo. Mas ao anunciar a Nova Matriz Econômica no meio de seu segundo mandato, armando a bomba que viria a estourar no colo de sua sucessora, Lula confirmou seu compromisso com o passado. Não é necessário denotar aqui os maus resultados que se seguiram, confirmando o anacronismo do ideário nacional-estatista neo-varguista apregoado pela velha guarda do PT, que Lula deveria ter descartado em definitivo enquanto teve o poder. O resultante fracasso da economia explica a queda do governo Dilma com pouca ou quase nenhuma resistência popular.
Se, no entanto, Lula for processado e impedido de disputar as eleições de 2018, a indagação ficará aos olhos de todos: e se Lula fosse o presidente?
Seja quem for que vença as eleições, terá sobre si a sombra de Lula e as especulações daí advindas, que com o tempo se tornarão um mito, tal como aconteceu com a Argentina de Evita Perón, que conforme sabemos, conheceu um período economicamente muito favorável graças aos saldos da balança comercial do tempo da guerra, cujo fim coincidiu com a morte por causas naturais da primeira-dama militante, nascendo daí a obsessão nacional: ressuscitar os bons tempos de Evita e Perón. É a sombra do passado que impede a chegada do futuro, e para que nossa História destrave, é imprescindível, sim, que Lula dispute as eleições de 2018. Derrotado, seu tempo estará definitivamente confinado ao passado. Vitorioso, terá a oportunidade de optar mais uma vez pelo pragmatismo, desvencilhar-se do superado ideário esquerdista e fazer um bom governo. Então seu papel na História estará escrito.
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