quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Presidente bom é presidente chato

Estou com saudades de Michel Temer. Não, não é piada. Se ele foi um dos mais apagados e esquecíveis personagens que já sentaram na cadeira presidencial, e inclusive a legitimidade de seu mandato foi colocada em dúvida pelos que não aceitavam o impedimento de Dilma Rousseff, por outro lado é preciso recordar que naqueles anos a situação financeira do país foi melhorando gradual e continuamente, a ponto de Jair Bolsonaro pegar o país já com uma modesta recuperação econômica. Pouco depois, como se sabe, o dólar disparou e o crescimento travou.
 
Alguém comentou que Temer deveria ter aproveitado o fato de ser um presidente impopular para tomar medidas impopulares, o que ele fez até certo ponto, mas na minha opinião deveria ter feito mais. O problema é que o antigo paternalismo vigente por aqui nas relações entre governantes e governados faz com que as pessoas acreditem que os sucessos e os fracassos de um presidente dependem de sua boa ou má vontade. Lula pegou uma conjuntura econômica favorável e vendeu a ideia de que os bons resultados eram obra de sua gestão, mas dificilmente poderá repetir a mágica se eleito agora. Como Dilma igualmente não pôde. Vendo o saco de bondades do PT esvaziado, o povo voltou suas esperanças para "o mito", sempre a procura de um salvador da pátria.
 
Michel Temer me lembra Itamar Franco, outro presidente sem carisma que assumiu após o impedimento do titular cheio de carisma. Sua melhor ideia foi reativar a produção do fusca. Mas foi também no seu período que se iniciou o primeiro planejamento econômico sério desde muitas décadas após a pior crise econômica do país. Fernando Henrique começou a gestar o Plano Real ainda como ministro de Itamar, depois tornou-se o presidente, e sua figura está indelevelmente ligada ao plano que pôs fim à hiperinflação que arruinava o país, ao passo que Itamar é mais lembrado por haver tirado aquela foto junto à modelo sem calcinha. Não sei quando a importância de Itamar será devidamente reconhecida, mas parece-me que assim como de tanto em tanto surgem umas figuras exóticas que ocupam a presidência com estardalhaço para desaparecer em seguida, também de tanto em tanto surgem umas figuras apagadas para colocar a casa em ordem.
 
Lembro-me daquele ditado dos frequentadores de estádios: o bom juiz de futebol é aquele que após o jogo você não sabe o nome. Porque se você sabe o nome, alguma coisa errada ele fez. Do mesmo odo, os presidentes mais falados são aqueles que mais desastres causaram ao país. Eu não sei o nome do síndico do prédio onde moro. Mas infelizmente sempre sei o nome do presidente do país.
 
Michel Temer para presidente!