Modéstia à parte, tenho certo talento em prever o futuro. Muito do que eu prevejo, efetivamente acontece, e às vezes eu bem desejaria estar errado. Quem me acompanha deve saber que desde o ano passado eu venho prevendo que Lula, em determinado momento, iria romper com Dilma, afirmar que não sabia de nada e lançar sua candidatura para 2018 com discurso de oposicionista. Eu esperava isso para daqui a uns dois anos.
Mas não é que Lula resolveu antecipar-se? Em sua recente entrevista, quando declarou o PT e Dilma "no volume morto", foi altamente crítico ao governo e já está brandindo um discurso claramente de oposicionista. Evidente que apenas personagens de extraordinário carisma pessoal como nosso ex-presidente podem jogar tal m* no ventilador sem que esta borrife sobre ele próprio, o mentor político da atual presidente e introdutor das políticas que redundaram no atual cenário de crise. Pois na visão do povo, PT é PT e Lula é Lula. Ele não tem culpa de nada. Mas conforme ele próprio reconheceu na mesma entrevista, também está "no volume morto", e as pesquisas confirmam isso: se a eleição fosse hoje, perderia fácil para Aécio.
Mas as eleições serão daqui a três anos e até lá muito pode mudar. A chance de Lula será descolar sua imagem do PT, e descolar a lembrança de seus oito anos de governo, indiscutivelmente bons, da lembrança dos oito anos de Dilma, indiscutivelmente ruins. O eleitorado vai se dividir entre os que desejam alguma coisa nova e os que desejam a volta dos bons anos de Lula. Qual tendência vai prevalecer? Desta vez não arrisco um prognóstico, pois só sou profeta quando tenho razoável certeza. E uma coisa de que tenho razoável certeza agora é de que, mesmo que Lula triunfe, a debacle do PT é certa. Eu que acompanho desde sempre os forum´s de discussão na internet, comecei a notar de quatro anos para cá uma massiva conversão dos comentaristas em petistas chapa-branca. Se no início do governo petista eles se mostravam reticentes, diziam que o PT deixara de ser socialista e exibiam um discurso ultra radical e algo porra-louca, de um momento para outro passaram a repetir o discurso-padrão do PT e fazer política partidária, sobretudo para atacar os tucanos. Surpreso a princípio, pus-me a raciocinar e atribuí essa mudança ao fato do dinheiro extraído da Petrobras ter começado a jorrar entre os blogueiros. Parece-me uma hipótese razoável.
Mas agora que a polícia apertou, a fonte secou, e os mesmos comentaristas mostram-se desapontados e já voltam a dizer que o PT abandonou o socialismo. O cenário é esse. Mas chega de ser profeta por hoje.
sábado, 27 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
Campanha pela volta da inflação
Eu que frequento vários forum´s de discussão por aí, tenho notado com incômoda frequência a presença de artigos querendo vender o peixe de que "um pouquinho de inflação" é necessário para o país sair da crise. Tem este aqui por exemplo, ou ainda esse outro. Não que eu desconheça essa velha falácia cepalina que fazia sucesso 50 anos atrás; muita gente acreditou, de Kubitchek a Figueiredo. Mas eu pensei que isso tudo havia sido enterrado em definitivo após o Plano Real. Agora pipocam opiniões por todo lado dizendo que o Plano Real foi uma maldade dos neoliberais e que inflação é bom. Querem o dólar a 4 reais dizendo que irá agilizar as exportações do país, e mais inflação dizendo ser necessário para manter o nível de emprego.
Ora, produzir inflação nada mais é do que emitir moeda sem lastro. Em outras palavras, emitir dinheiro falso. Quando se diz que o índice de inflação é 8%, o que se quer dizer é que de cada 108 moedas de 1 real emitidas pela Casa da Moeda, 8 são falsas. Isso é necessário para criar empregos, dizem. Mas empregos criados com dinheiro de mentira são empregos de mentira, gerados à custa da perda do poder aquisitivo daqueles que já estão empregados. É como se o seu patrão chegasse para você e dissesse: vou descontar 8% do seu salário para dar emprego àquele seu colega que está desempregado.
A quem, então, interessa a volta da inflação?
Ao governo, evidentemente. Pois inflação não é problema algum para quem emite o dinheiro, é problema para quem usa o dinheiro. Para quem emite, então, é solução: basta girar a maquininha da Casa da Moeda que os rombos do governo estão cobertos, e a fatura vai para o infeliz usuário do papel-moeda. É como um imposto invisível, com a vantagem de que pode ser criado sem aquela chatice de comprar deputados. Permite também diminuir salários, o que é proibido por lei: basta dar reajustes inferiores ao aumento dos preços. É óbvio que o governo anseia por ter de volta às mãos instrumento tão poderoso, capaz de fazer eu e você pagarmos pelo dinheiro que o BNDES vai mandar para o séquito de empresários amigos-do-rei. Tudo isso em prol do desenvolvimento do país, é o que dizem.
É nesse ponto que surge a minha suspeita: essa campanha pró-inflação pode ser parte de uma estratégia do governo já em andamento. Uma vez que o aumento de impostos foi barrado no legislativo, e a captação de dinheiro via corrupção foi barrada pelo judiciário, resta a terceira opção de captar o dinheiro do povo via inflação. É a melhor escolha, pois produzir inflação é uma forma de roubo altamente sofisticada, que prescinde até de retirar as cédulas do bolso do roubado.
O que tem segurado o governo até agora é uma coisa só: todo o aumento do consumo da parcela mais pobre da população nos últimos 12 anos, o que tem garantido as vitórias eleitorais do PT até agora, é devido essencialmente à expansão do crédito, que permitiu ao povo comprar geladeiras nas Casas Bahia pagando em 15 vezes. Esse quadro obviamente só se mantem em um cenário de inflação baixa. Se deixar a inflação voltar, a carruagem vira abóbora de novo, e os milhões que passaram à classe C voltam à classe D. Poderá o governo conter o descontentamento dessa gente?
O remédio é esperar, como dizia a música da normalista.
Ora, produzir inflação nada mais é do que emitir moeda sem lastro. Em outras palavras, emitir dinheiro falso. Quando se diz que o índice de inflação é 8%, o que se quer dizer é que de cada 108 moedas de 1 real emitidas pela Casa da Moeda, 8 são falsas. Isso é necessário para criar empregos, dizem. Mas empregos criados com dinheiro de mentira são empregos de mentira, gerados à custa da perda do poder aquisitivo daqueles que já estão empregados. É como se o seu patrão chegasse para você e dissesse: vou descontar 8% do seu salário para dar emprego àquele seu colega que está desempregado.
A quem, então, interessa a volta da inflação?
Ao governo, evidentemente. Pois inflação não é problema algum para quem emite o dinheiro, é problema para quem usa o dinheiro. Para quem emite, então, é solução: basta girar a maquininha da Casa da Moeda que os rombos do governo estão cobertos, e a fatura vai para o infeliz usuário do papel-moeda. É como um imposto invisível, com a vantagem de que pode ser criado sem aquela chatice de comprar deputados. Permite também diminuir salários, o que é proibido por lei: basta dar reajustes inferiores ao aumento dos preços. É óbvio que o governo anseia por ter de volta às mãos instrumento tão poderoso, capaz de fazer eu e você pagarmos pelo dinheiro que o BNDES vai mandar para o séquito de empresários amigos-do-rei. Tudo isso em prol do desenvolvimento do país, é o que dizem.
É nesse ponto que surge a minha suspeita: essa campanha pró-inflação pode ser parte de uma estratégia do governo já em andamento. Uma vez que o aumento de impostos foi barrado no legislativo, e a captação de dinheiro via corrupção foi barrada pelo judiciário, resta a terceira opção de captar o dinheiro do povo via inflação. É a melhor escolha, pois produzir inflação é uma forma de roubo altamente sofisticada, que prescinde até de retirar as cédulas do bolso do roubado.
O que tem segurado o governo até agora é uma coisa só: todo o aumento do consumo da parcela mais pobre da população nos últimos 12 anos, o que tem garantido as vitórias eleitorais do PT até agora, é devido essencialmente à expansão do crédito, que permitiu ao povo comprar geladeiras nas Casas Bahia pagando em 15 vezes. Esse quadro obviamente só se mantem em um cenário de inflação baixa. Se deixar a inflação voltar, a carruagem vira abóbora de novo, e os milhões que passaram à classe C voltam à classe D. Poderá o governo conter o descontentamento dessa gente?
O remédio é esperar, como dizia a música da normalista.
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