terça-feira, 27 de agosto de 2019

A História se repete: queimadas na Amazônia

Várias vezes tenho dito aqui: o motivo mais importante de se saber o passado é obter embasamento para entender o presente. Ou seja, perceber que as notícias que parecem novidades bombásticas aos desatentos, na verdade são dejà vu. O conhecimento da História dá uma percepção de profundidade aos fatos observados, tal como naqueles antigos desenhos de silhuetas que às vezes apareciam nas páginas de recreação das revistas. A figura sombreada em duas dimensões parecia uma feiticeira mexendo um caldeirão, mas acrescida a luz e recuperada a perspectiva em profundidade, via-se que o desenho mostrava uma mulher varrendo debaixo de uma mesinha sobre um tapete redondo, e o chapéu da bruxa na verdade era um pote sobre uma prateleira em segundo plano.

A bola da vez são as queimadas na Amazônia. A percepção imediata é que se trata de uma medonha catástrofe, mas quem tem memória deve se lembrar que o mesmo alarmismo já foi repetido 10, 20, 30 anos atrás. Eu particularmente me lembro de meus tempos de escola, e lá se vão 40 anos, quando se afirmava que o Brasil desflorestava uma Bélgica por ano, ou uma Suíça, ou uma França, ou outro país qualquer. Então como explicar que hoje em dia a floresta ainda continue de pé?

Pesquisando e comparando cuidadosamente notícias ao longo desses anos, pude tirar algumas conclusões. O principal motivo do equívoco é a definição mesma do que é, e do que não é a Amazônia. O Brasil tem vários biomas, e a floresta amazônica propriamente dita se inicia ao norte de Mato Grosso e oeste de Goiás - ou ao menos tem sido assim nos últimos milhares de anos - fazendo fronteira com o cerrado e o pantanal. Verificando as fotos dos satélites que detectam as queimadas, vê-se que a maioria delas encontra-se na região limítrofe, principalmente ao norte de Mato Grosso e sul do Pará.



Ou seja, parte das queimadas, na verdade, não estão ocorrendo na região da floresta. Sem contar que podem estar sendo registradas queimadas em áreas que já foram desflorestadas muito tempo atrás, pois é sabido que é preciso repetir a queimada de tanto em tanto para se limpar o terreno. Mas não é assim que as notícias têm sido vinculadas, sobretudo no exterior, mesmo porque no imaginário dos estrangeiros a floresta ocupa o Brasil inteiro. Essa impressão ficou bem flagrante naquele conhecido episódio dos Simpsons, onde Homer é sequestrado, só que ao invés de ser levado a uma favela, seu cativeiro é na floresta amazônica supostamente localizada logo atrás do Rio de Janeiro.

O mesmo equívoco explica a notícia de que São Paulo teria tido um dia convertido em noite em razão da fumaça das queimada na Amazônia. A foto do satélite mostra o que realmente ocorreu:




Nota-se que a nuvem se move horizontalmente, vindo desde a Bolívia. A fumaça que enegreceu o céu de São Paulo presumivelmente originou-se de queimadas no Mato Grosso do Sul, Paraguai e na própria Bolívia. Sobre a mancha verde da Amazônia, não há nuvem. E basta observar o tamanho desta mancha verde para constatar que perto de 90% da floresta original ainda permanece onde sempre esteve.

Ou seja, as queimadas existem há muito tempo, mas estão longe de configurar a catástrofe que se quer mostrar. Elas não podem ser contidas porque ocorrem em uma área imensa, mas justamente por ser imensa esta área, é difícil de acreditar que a floresta terminará destruída nestes tempos de preocupações ambientalistas, sendo que em 500 anos sem preocupações ambientalistas não conseguimos destruir mais de 10% dela. O problema é que o ambientalismo se tornou uma doutrina, com suas crenças e dogmas. Posso citar aqui algumas.

O primeiro mito é a crença de que a Amazônia seria o pulmão do mundo, responsável pelo oxigênio do planeta. O verdadeiro pulmão do mundo são os oceanos, e a quantidade de oxigênio na atmosfera tem permanecido estável, A real importância da floresta está no clima.

Outro mito renitente é essa criatura gestada pelos ecologistas, o índio ecologicamente correto. Presume-se que o índio é um ser telúrico, que vive em harmonia com a natureza, portanto garantir a integridade dos territórios indígenas é garantir a integridade da floresta. Duplamente falso. O interesse dos índios em manter seus territórios é garantir para a tribo a exclusividade na exploração dos recursos ali contidos, no que, aliás, estão inteiramente certos, pois se não defenderem seus interesses, ninguém mais o fará. Os ambientalistas românticos dizem que se trata de índios corrompidos que aderiram à civilização predatória, e abandonaram seu modo de vida original. Mas tampouco seu modo de vida original jamais foi ecologicamente correto, pois sempre necessitaram caçar, pescar e derrubar árvores para construir suas malocas. É praticado até hoje na floresta um tipo de pesca que consiste em dissolver na água um veneno vegetal, que mata bem mais espécies de peixe do que aquelas aproveitadas na alimentação E é sabido que os tupis que ocupavam o litoral na época do descobrimento desde muito praticavam uma agricultura primitiva com queimadas. Sim, as queimadas são mais antigas do que se supõe. Índios nunca tiveram consciência ecológica, mas apenas consciência do que precisavam fazer para sobreviver.

Já que não podemos parar com as queimadas, devíamos ao menos entender o fenômeno dentro dos parâmetros em que efetivamente se encontra.

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