quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A república rateando

As pessoas da minha geração que estudaram e testemunharam pessoalmente o desenrolar da História do Brasil sempre retiveram uma impressão: de que nossa História tinha um rumo, e apesar dos percalços seguia uma trajetória evolutiva claramente delineada. Podia ser um otimismo algo ingênuo, mas não desprovido de fundamento. Bem ou mal, o país não sofria invasões, não se fragmentava, era vitorioso nas poucas guerras em que se metia, e apesar dos altos níveis de pobreza e analfabetismo, apresentava um crescimento econômico consistente - de fato, em todo o século 20, apenas o Japão teve um crescimento geral acumulado superior ao brasileiro. O chavão que afirmava sermos o "país do futuro" parecia fazer sentido. Havia retrocessos, por certo - por exemplo, o período de governo militar entre 1964 e 1985 interrompeu a sequência democrática - mas no ponto de vista do desenvolvimento, não houve descontinuidade: o país continuou crescendo a alta taxas, performance que perdurou até o início dos anos 80.

Mas com a virada para a Nova República, essa performance se esgotou. Não mais avanço contínuo, o país começou a ratear. O fluxo de um rio em direção ao mar foi substituído por uma espuma de bolhas que crescem até estourar: uma rápida sucessão de ciclos de auge e derrocada, sendo que a derrocada é invariavelmente marcada por uma explosão de corrupção, seguida de descrédito e desejo de mudança que conduz a um novo ciclo. Os partidos se fragmentaram, e seu conteúdo programático foi substituído pelo pragmatismo de seus integrantes, que mudam de partido tão facilmente quanto jogadores mudam de clube - a única exceção foi o PT, até recentemente.

A primeira bolha a estourar foi o próprio PDS, o partido que deu respaldo ao governo militar. O PMDB absorveu seus integrantes e tornou-se hegemônico, chegando a fazer praticamente todo os governadores em uma eleição: foi a bolha do Plano Cruzado de Sarney, que chegou a ter índices de até 80% de aprovação. O fracasso do plano fez estourar esta bolha. José Sarney arrastou-se até o fim de seu mandato envolto em denúncias e com aprovação quase zero, e o PMDB nunca mais venceu uma eleição para presidente. A bolha de Collor de Mello foi breve, e um festival de denúncias nunca antes visto inundou o país. No descrédito que se seguiu, emergiu o PSDB com um discurso progressista e uma prática responsável, finalmente conseguindo um plano econômico que dá certo e debela a inflação.

Inflada pelo sucesso do Plano Real, cresceu a bolha pessedebista, e Fernando Henrique obteve sua reeleição. Mas seu segundo mandato foi marcado por crises internacionais, racionamento de energia e denúncias de corrupção nos processos de privatização. Estoura mais essa bolha e as esperanças do país se voltam para o PT, o único partido que manteve um discurso coerente na Nova República.

O sucesso inicial do PT no campo econômico garante-lhe quatro vitórias seguidas, embora sua faceta ética tenha ficado desmoralizada logo no primeiro mandato de Lula. Quando fica claro que o segundo mandato de Dilma Rousseff foi obtido graças a um formidável estelionato eleitoral alimentado por gigantesca corrupção, o encanto acaba. O impedimento da presidente sem reação popular significativa, e a derrota do PT nas últimas eleições confirmam que essa bolha também já estourou. E nada surgiu em seu lugar: estamos sendo governados por um presidente que tem apoio popular praticamente nulo, e que nada mais é do que um interino, embora formalmente exerça o cargo em suas plenitude. O que virá em seguida?

Não me arrisco a prever, mas impressiona-me ler nos forum´s de debate que frequento como tantos comentaristas continuam utilizando argumentos que só faziam sentido 50 anos atrás, época do Petróleo É Nosso, da Guerra Fria, das conspirações. A república rateia e o país quer andar em círculos.

Até quando?

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Caso das Adolescentes Detidas nos EUA

Li esse artigo no Jornal GGN sobre o caso bizarro das adolescentes brasileiras que foram barradas ao entrar nos EUA e enviadas a um abrigo para menores refugiados, e resolvi fazer um estuo completo. Está aqui.