segunda-feira, 30 de maio de 2022

A Polícia que Mata

Mais uma vez uma operação da polícia no RJ deixa dezenas de mortos, e mais uma vez ecoa nas manchetes, inclusive estrangeiras, o mesmo bordão: a polícia brasileira está entre as que mais matam no mundo,

Em geral essa afirmação bombástica vem acompanhada das denúncias de que "metade dos mortos não tinha passagem na polícia", outros eram inocentes vítimas de balas perdidas, outros foram executados, etc.

Podem até ser verdadeiras algumas dessas denúncias. Mas é nítida a mensagem de que a polícia mata deliberadamente trabalhadores inocentes. A polícia brasileira mata? Sim, isto é flagrante. Mas também morre. O que as manchetes raramente dizem é que a polícia brasileira está entre as que mais morrem no mundo. Quanto a mim, não nego nem estranho, nem a primeira afirmação, nem a sua contrapartida: a meu ver trata-se do resultado inevitável de um quadro onde os bandidos formam numerosas quadrilhas e usam armamento pesado, do tipo só usado pelas forças armadas, adquirido de grandes contrabandistas internacionais. Todos sabem que os bandidos ocupam posições privilegiadas do alto das favelas, de onde começam a disparar tão logo a polícia chega ao pé do morro. De um combate assim, só podem resultar muitas morte, inclusive por bala perdida. O que vale é que os bandidos têm as mais poderosas armas, mas não o treinamento apropriado para usá-las: não sabem nem segurá-las direito. Aí quando vão enfrentar soldados que sabem usar a arma, o resultado é esse.

Passando ao largo do sensacionalismo, podemos raciocinar: se 20 morreram, imagine quantos escaparam. Por aí dá para avaliar o tamanho das quadrilhas. Se metade dos mortos não tinha ficha na polícia, isso não é prova de que eram inocentes. Isso é prova da generalizada impunidade dos bandidos que dominam as favelas onde a polícia raramente incursiona. Qualquer garoto ali, vendo um companheiro que já é quadrilheiro desde muitos anos sem ter sido jamais preso, só pode se animar a seguir a mesma carreira.

A solução é matar? Não concordo. Bandido, em geral, não tem medo de morrer, porque já viram muitas mortes, sabem que sua vida será curta de qualquer jeito, então tratam de desfrutá-la ao máximo. Bandido tem medo, isso sim, de cana dura: passar longos anos em uma cela, onde não tem festa, nem bebida, nem droga, nem mulher, nem nada daquilo que o motivou a entrar para o crime. A solução é prender; matar é apenas a consequência inevitável de um enfrentamento onde do lado de lá atiram com armas pesadas que sequer sabem utilizar.

Não deixo de lamentar os vinte mortos na operação. Mas eles morreram porque estavam lá, e não na cadeia onde deveriam estar.