terça-feira, 18 de julho de 2023

Imigração e Ruína

Os recentes distúrbios na França lançam luz sobre um problema que vem se arrastando há décadas: a imigração descontrolada e os problemas que acarreta.

Problemas? Entendo um problema como uma anomalia que pode (deve) ser reparada, tipo um cano vazando embaixo da pia. Mas no contexto atual, o contínuo deslocamento de imigrantes dos países do Terceiro Mundo em direção ao Primeiro Mundo não é um problema, mas uma característica de nossa época. É claro que a interpretação pode ser outra: uns dizem que aqueles países estão sendo invadidos por hordas de estrangeiros, outros se queixam de que as comunidades de estrangeiros são alvo de injusta discriminação da parte das autoridades locais. Não há invasão nenhuma: a vinda de imigrantes pobres dispostos a executar trabalhos rejeitados pelos habitantes tem sido incentivada há décadas. E se a polícia age com violência, também é verdade que são os imigrantes e seus descendentes que cometem a maior parte dos crimes.

O fato é que os franceses, suecos, alemães e todo o mais não gostam de imigrantes, mas gostam ainda menos de executar os trabalhos pesados que são feitos pelos imigrantes. Aí o problema não tem solução, e pos isso mesmo não é um problema. O que não tem remédio...

Essa constatação dá um certo desalento. Pois em nosso imaginário, imigração é uma coisa boa, a epopéia de indivíduos corajosos e laboriosos, que abandonam suas terras de origem para construir novos países no além-mar. Os EUA até colocaram aquela inscrição na Estátua da Liberdade para homenageá-los. Entre nós, persiste a memória afetiva de nossos avós italianos, portugueses, japoneses e alemães.

O mesmo não ocorre para com os novos imigrantes na Europa e nos EUA. Eles não vem construir novos países, aqueles países já estão construídos e já têm sua cultura estabelecida. A fenomenologia da imigração moderna diz respeito à substituição de mão-de-obra: aqueles imigrantes têm a função de assumir trabalhos que a força de trabalho local já não pode suprir. Sem ter a incumbência criar o arcabouço da cultura e da identidade nacional daqueles países antigos, não existe uma integração social; as comunidades estrangeiras permanecem como uma excrescência, ao mesmo tempo em que sua integração econômica em determinados nichos do mercado de trabalho é forte a ponto de não ser mais possível dispensá-los. Esse quadro tende a reproduzir-se geração após geração, perpetuando o mútuo estranhamento e ressentimento. A agitação, a violência e o crime são consequências inevitáveis.

Observa-se aí um claro sintoma depressivo: ao contrário do que sucedeu no Brasil, nos EUA e em demais países "novos", o fluxo de imigrantes parece ilógico: o direcionamento não deveria ser do velho para o novo, do que já foi feito para o que ainda está em gestação? Não está ocorrendo, portanto, uma construção, mas um declínio. Os países antigos estão abandonando seus valores; sua população não quer mais executar trabalhos pesados nem criar filhos, prefere o repouso e o lazer. Envelhecida e sem renovação, tende a encolher enquanto aumenta o percentual de estrangeiros. De forma irônica. lembra o que ocorria no Brasil da época da escravidão, quando os brancos não queriam trabalhar e tudo era deixado para os cativos. Impressionada com a quantidade de crianças negras ociosas pelas ruas após a abolição, uma educadora alemã que veio ser preceptora de filhos da elite paulista escreveu em seu diário:

"Não percebem eles que assim estão preparando a pior das gerações, que irá depois conviver com seus próprios filhos?"

Mais de cem anos depis, podemos dizer a mesma frase aos descendentes da preceptora.