sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O Fenômeno Bolsonaro

Podemos não simpatizar com determinadas figuras da política, mas chega um ponto que não podemos mais ignorá-las. É o caso de Jair Bolsonaro. Até pouco tempo mais um ítem do panteão folclórico, comparado ao já falecido Enéas Carneiro, agora o candidato com segunda maior intenção de votos. Devemos então encarar seriamente a possibilidade dele ser nosso novo presidente, e analisar possíveis consequências.

É nesse momento que devemos recorrer à História para explicar o presente. Se observarmos bem, é recorrente na nossa política o fenômeno de personagens surgidos do nada com um discurso bombástico, tendo uma carreira meteórica e chegando à presidência bem jovens, só para logo em seguida desaparecerem tão rapidamente quanto surgiram. O exemplo mais emblemático é o de Jânio Quadros. Depois veio Collor de Mello, esse parecendo mais uma caricatura do primeiro. E agora Bolsonaro.

De comum, todos os três brandiram um discurso moralista que em outras circunstâncias seria considerado lugar-comum, mas que na ocasião causou considerável impacto e empolgou muita gente. São por isso considerados protagonistas de uma espécie de "populismo de direita", definição algo preconceituosa porque supõe que o populismo seria exclusivo da esquerda, o que não é verdade. Mas o sucesso que tiveram deixa claro que preencheram um vácuo, atendendo às expectativas de multidões que naquele momento não tinham quem expressasse suas ideias. O rápido desgaste e a queda em seguida também deixa claro que apesar de todas as esperanças que despertaram, seus projetos não eram exequíveis e eles próprios não tinham o mínimo jeito para a coisa, não passavam de corpos estranhos que foram expelidos pelo organismo.

Jair Bolsonaro terá trajetória semelhante? Por enquanto, tudo o que ouvimos dele são frases de efeito, insultos e provocações contra grupos minoritários também barulhentos. Isso chama bastante a atenção, mas não se materializa em um projeto político. Assustou-me sobretudo haver ele declarado em uma entrevista que não entende de economia. O que fará ele se for presidente? É um declarado apologista do regime militar de 1964, mas o modelo econômico nacional-estatista praticado por este regime já está desde muito esgotado, e ironicamente foi encampado pela esquerda petista que Bolsonaro combate.

Todo populista quando chega ao poder encontra-se diante de uma realidade cabal: vai ter que governar. Os discursos que faziam sucesso nos palanques não funcionam nos gabinetes. Penso que haverá duas possibilidades: a primeira, Bolsonaro se tornará uma caricatura de Donald Trump, de tanto em tanto soltando bravatas, e só. Sem uma liderança eficaz, a economia e a política logo se degradarão, ele perderá apoio e será expelido tal como seus antecessores. Na segunda hipótese, ele abandonará o discurso extremista, fará coligações e se tornará uma figura de proa, deixando a tarefa de governar para os outros, já que ele não entende de economia e ao que parece também não tem paciência para a política.

Mas isso só saberemos em 2018.

10 comentários:

  1. Pra ser franco ao Trump, o problema que ele tem atualmente é que a maior parte dos congressistas e senadores do próprio partido dele, não são leais à ele e ao projeto dele, então ele não consegue passar nada no congresso e senado.

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    1. É a maldição de sempre do líder populista, que é sempre muito personalista, para não dizer narcisista, e tem dificuldade em cultivar aliados. É assim desde o tempo de Jânio Quadros.

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    2. É, isso é verdade. Mas acho que a maior questão aqui é que o Partido Republicano é infestado de traidores (ou como dizem comumente, "cucks") que não representam o que a massa republicana claramente quer.

      Tanto que rolaram umas "eleições especiais" recentemente e a concorrência não era só Republicanos x Democratas, mas Republicanos x "RINOs" (Republican in Name Only - Republicanos Só Em Nome). È uma coisa muito surreal, distante (por que aqui não tem bipartidarismo) mas ao mesmo tempo bem próxima de nós, a falta de representatividade de muitos politicos.

      Seria muito bom ter algo no Brasil como os "Liberty Score", um cara que eu conheço usa quando falam de algum congressista lá, e é bem preciso. É tipo como avaliação de produto, mas eles medem como os caras estão cometidos aos valores do partido republicano, em tese e em prática. Ron Paul sai bem, John McCain sai mal.

      Pessoal tem que começar a olhar de forma mais sistemática para deputadores, vereadores e senadores aqui.

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  2. Bolsonaro não sabe nada de economica e admite. Me parece uma admissão humilde.

    Bolsonaro parece estar ensaiando fortemente com o liberalismo econômico, o que é muito bom. Um dos filhos dele (O Eduardo, se não me engano) é chegado na Escola Austriaca de Economica.

    A base do Bolsonaro são os tradicionalistas e conservadores, e ela já está segura pra ele. Agora, ele tem que ir atrás dos liberais. Eu tenho dito pra quem eu falo e continuo: Se o Bolsonaro obtiver os liberais e libertários pra si, ele ganha.

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    1. O X das questão é Bolsonaro ganhar os liberais. Mas para isso ele vai ter que se libertar das amarras do personalismo próprio ao estilo populista.

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    2. É, esse é o X. Eles são o fíel da balança. Não pode ser só uma campanha sobre o Bolsonaro, até porque ele é só um.

      Aliás, seria bom tomar um pouco do Reino Unido e ter a ideia do "Gabinete Paralelo/Shadow Cabinet", que é tipo um "espelho" do atual governo - um Ministro da Fazenda paralelo, por exemplo, que seria o futuro ministro da fazenda, e compactua com as ideias econômicas do Bolsonaro.

      Alías, todos candidatos deveriam fazer isso. Seria uma boa evolução pro cenário politico brasileiro, apesar de tal sistema ser algo mais do parlamentarismo. Diminuiria incertezas, também.

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  3. Na verdade, a ascensão de Bolsonaro no cenário político se tem mostrado uma quebra (um "crash") na hegemonia de senso comum e pensamento da esquerda brasileira, produzida nas escolas e universidades, e ecoada pela mídia brasileira, infestada de marxistas enrustidos e/ou mascarados.
    Classificar Jair Bolsonaro como um elemento folclórico ou personagem histérica, nada mais é do que uma estratégia esquerdista de desmerecer o pensamento conservador que a MAIORIA dos brasileiros tem. E a internet é uma grande ferramenta para essa derrubada da hegemonia de pensamento comunista, coisa que, infelizmente, o Dr. Enéas Carneiro não teve, sendo também taxado de histérico, lunático e etc.
    Mas o tempo tudo revelará. Donald Trump, e.g., tem mostrado êxito sobre toda a campanha contra ele levantada (até hoje), pois a economia dos EUA, não fora tão crescente há muito tempo.
    Certamente, Bolsonaro se tem mostrado uma alternativa certa, depois dos desgovernos do PT e Sua corja. Bolsonaro só não terá êxito se o parlamento permanecer como está. Que Jair Bolsonaro tenha boa sorte desta vez!

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    1. Torço para que Bolsonaro, caso eleito, satisfaça essa demanda dos conservadores brasileiros órfãos de liderança há tantas décadas. O problema é que ele tem cedido muito a uma retórica populista, com frequência entrando em polêmicas estéreis, dando respostas malcriadas a quem nem merece uma resposta. Se chegar ao poder, ele vai ter que ser mais pragmático.

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    2. Acho que a questão da "polêmica estéril" não é tão simples assim, porque hoje em dia existe muito dessa coisa de guerra cultural, e ninguém aqui (espero) é ingênuo o bastante pra pretender que a agenda subversiva/desconstrutiva da esquerda não existe.

      Eu vejo o Trump passar por esse tipo de coisa e até hoje onde vejo, parece fazer bem pra ele e solidificar o apoio da base dele ao mesmo tempo em que implanta dúvidas nos céticos. Tipo um "teste de força".

      Problema é que muitos liberais são afeitos às plataformas sociais da esquerda... que são justamente o que o Bolsonaro não gosta.

      Tem que balancear enfrentar a agênda cultural da esquerda ao mesmo tempo em que trabalha em prol de uma governança pragmática (mas não corrupta) e alianças. Acredito que seja isso que te referes.

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  4. Vou te dizer, acho que a próxima eleição vai ser a mais emocionante até agora. Vou ter que triplicar meu estoque de pipoca. Nunca tivemos tanta opção, também.

    Seria interessante pensar em prováveis apoiadores do Bolsonaro. Já existem alguns deputados ajudando ele, tem uns 15 que estão esperando confirmação pra entrar no PEN/Patriotas.

    Acho que a bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala) apoiaria ele, especialmente com cargos e ministérios. Se ele obtiver, digamos, 200 parlamentares à favor, já é bom inicio pra um candidato "populista".

    A sorte dele é que aqui no Brasil a tendência é o congresso querer sempre se aproximar do executivo, todo mundo quer ser governo. Isso não é de todo bom, porque tem muita coisa excusa e maracutaia nesse processo do presidencialismo de coalizão. Meu medo ai é o Bolsonaro ser corrompido. Resta ver o que o futuro trás.

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