sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Fim do ciclo populista na América Latina?

A eleição de Maurício Macri na Argentina, derrotando o candidato do kirshnerismo que havia pouco parecia imbatível, foi saudada por muitos como o sinal do início do fim do ciclo populista latino-americano iniciado por Hugo Chávez em 1998. Quanto a mim, procuro ser mais cauteloso.

A própria presença de ciclos na história de um país ou região já é mau agouro. Denota uma repetição compulsiva, uma incapacidade de romper com o passado e seguir adiante. Na América Latina, nenhum país sofre mais desta síndrome do que a Argentina desde o primeiro governo Perón. Estando o país com um formidável saldo na balança comercial no fim da guerra, em consequência das exportações feitas aos países beligerantes, Perón pôde proporcionar a seus concidadãos muitos anos de bonança enquanto o cofre esteve abastecido. Depois que acabou, os argentinos associaram os maus tempos à ausência do caudilho, e desde então têm procurado de todas as maneiras reviver o peronismo, mesmo que tenham que fazer o casal Evita/Perón reencarnar no casal Kirschner. De fato, os argentinos já reconduziram os peronistas ao poder mesmo em situações bem piores que a atual, daí que não foi sem surpresa que eu vi a vitória de Macri.

Protótipo do caudilhismo populista, Perón inaugurou na América Latina um ciclo nefasto, repetido em variadas épocas e locais. A fórmula consiste de raspar até o fundo do cofre a fim de comprar o apoio do povão, e depois que o dinheiro acaba, baixar o cacete. Se não é estabelecida uma ditadura, a eleição seguinte fatalmente tira os populistas do poder. Tenho visto divertidas teorias em forum´s por aí, taxando o povo de ingrato. Dizem que o governo popular tira o povão da pobreza e o transforma em classe média; enriquecido, o povão passa a se identificar com a oligarquia e vota na direita; no poder, a direita os faz voltar à pobreza. Não é nada disso. Indivíduos que ascendem à classe média podem de fato incorporar os valores de sua nova classe social, mas a classe média na América Latina é minoritária e não decide eleição. Quem tira os populistas do poder é o mesmo eleitor pobre que os levou ao poder, decepcionado com as promessas não cumpridas e com o fim das benesses. Nada de veleidade ideológicas aí.

Mas simetricamente, é ilusório achar que o eleitor que agora está votando em candidatos como Macri mudou sua mentalidade. Ele apenas está apostando suas fichas em outro. Por isso, é de se temer que o fim do ciclo populista seja sucedido por um novo ciclo "neoliberal" que uma vez tendo saneado a economia, prepare o início de um futuro o ciclo populista. O que precisa ser feito é quebrar os ciclos, parar de repetir fórmulas passadas. Mas isso só será feito no dia em que o eleitor for seduzido por ideias, e não por benesses.

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