terça-feira, 20 de maio de 2014

O PT e a Carroça de Platão

Li em algum lugar que a resposta ao porquê da paralisia do governo Dilma talvez esteja em Platão e sua carroça. Platão afirmou que é difícil dirigir um carro puxado por dos cavalos diferentes - um bom marchador e outro manco e lerdo. É o caso do governo Dilma. É a síndrome de um governo dividido entre os arroubos bolivarianistas e as necessidades palpáveis.

A principal diferença entre o governo petista e os demais governos bolivarianos que se instalaram em nosso continente a partir do século 21 reside no fato de que aqueles governos chegaram ao poder no bojo de um movimento revolucionário, enquanto o PT chegou ao poder pelas urnas. Aqueles governos têm a seu dispor uma militância armada, enquanto a militância petista é desarmada e o partido depende das boas graças do eleitorado para manter-se no poder. E o PT, ou ao menos a cúpula petista, sabe muito bem que a atual satisfação do eleitorado origina-se da estabilidade econômica herdada dos tucanos, a qual permitiu a expansão do crédito e do consumo. É essa a verdadeira causa da melhora do padrão de vida experimentada por boa parte da população, pois de resto os salários aumentaram muito pouco, e as tão faladas bolsa só atendem a parcelas muito pobres da população, de modo que o PT sabe muito bem: se deixar a inflação voltar com força total, a carruagem vira abóbora de novo. Os milhões que passaram para a classe C voltam para a classe D, e os eleitores batem as asas.

Mas há o outro cavalo, representando o rebotalho das ideias do velho PT e tocado pelas bases militantes. Até o momento essas bases militantes estão entretidas com o chamado marxismo cultural, mas o marxismo cultural não é tão inócuo quanto parece, nem custa tão barato - haja visto o as dezenas de ministérios criadas para acolher a cumpanherada! Ainda não foi criado aqui o Ministério da Felicidade Socialista, como na Venezuela, mas estamos a caminho. Talvez não cheguemos ao bolivarianismo, verdadeira meta dos cumpanheros, mas podemos voltar ao falido nacional-estatismo que vigorou até os anos oitenta. Aí teremos que chamar alguém que queira bancar o "neoliberal" para endireitar tudo de novo e, talvez, entregar de bandeja para um novo ciclo populista, capitaneado pelo PSol. Ou então aprendemos a lição de uma vez. Quem viver, verá.


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