domingo, 18 de maio de 2025

A Desindustrialização do Brasil

Quem nasceu sob os auspícios da Era Vargas, dos 50 anos em 5 de Kubitchek e do "Milagre" de Médici viu um claro ponto comum: todos diziam que o desenvolvimento significava a industrialização do país. Fazia todo o sentido na época, quando a expressão "país industrializado" era sinônimo de "país desenvolvido". Hoje a expressão já está um tanto gasta e fora de uso. Mas quem se acostumou com ela, por certo que vê com desalento o fato da participação da indústria no PIB do país estar encolhendo ano após ano.

Esse fenômeno, chamado desindustrialização, é abordado nesse vídeo, que procura defini-lo com precisão, levantar suas causas e consequências. Então o Brasil está se desindustrializando? Bem, se o setor industrial cresce, é a um ritmo bem menor do que os setores primário e de serviços, tanto que hoje representa 11% do PIB, sendo que chegou a um máximo de 25% nos anos 80. Contudo, o fenômeno não acontece só com o Brasil. No mundo inteiro, o setor industrial tem encolhido enquanto o setor de serviços aumenta sua participação. Na Alemanha, país altamente industrializado, a indústria responde por não mais que 23% do PIB.

Então, estamos voltando a ser um país rural concentrado na produção agrícola? Também não. As estatísticas mostram que o percentual da população dedicado ao trabalho na agricultura tem diminuído continuamente, ao mesmo tempo que a produção agrícola e de outras commodities só faz aumentar. O que prova que a tecnologia agregada a essas atividades primárias tem aumentado, já que a produção é maior com menos mão-de-obra envolvida. O que é bom e mau. Mais divisas de exportação, menos empregos.

Enfim, até a atividade primária pode fomentar o investimento tecnológico, como foi o caso da Embrapa. Mas como a matéria do vídeo deixa claro, o setor industrial continua sendo a grande matriz da inovação tecnológica, e o maior criador de empregos estáveis. Hoje a maior parte da força de trabalho brasileira está concentrada no setor de serviços, característica  que temos em comum com os países desenvolvidos. A diferença está na qualidade desses serviços: aqui a maioria trabalha em atividades informais e pouco qualificadas, como telemarketing, entregas e serviços domésticos, enquanto nos países desenvolvidos a maioria trabalha em serviços altamente qualificados. Mas mesmo que o setor terciário (serviços) seja hoje majoritário nos países ricos, não há nenhum exemplo de país rico que não tenha também uma indústria forte e diversificada. Não por acaso, pois foi o setor secundário (indústria) que produziu a tecnologia que hoje cria vagas no setor terciário.

O que foi que deu errado? Bem ou mal, o Brasil investiu na industrialização em vários governos. O contraexemplo são os países da Ásia, que também investiram na industrialização, e deram certo. Mas ao contrário do Brasil, esses países voltaram sua produção industrial para a exportação, disputando o mercado com os países industrializados antigos, enquanto aqui prevaleceu o protecionismo e a produção voltada para empresas estatais que estavam obrigadas a só adquirir produto nacional. Convém lembrar que o auge da participação da indústria no PIB coincidiu com o pior momento econômico de nossa história, a "década perdida" dos anos 80 em meio a moratória e hiperinflação. O que bem mostra como o modelo utilizado era enganoso.

Basicamente, a política industrial do Brasil fracassou porque rejeitou a globalização. Não quis disputar no mercado global, preferiu ficar em casa, em um modelo "soviético" centrado em bancos e empresas estatais. O único efeito de longo prazo que isso causou foi criar um séquito de empresários "amigos do rei" orbitando em torno de políticos. Para o empresário nacional, então, a fórmula do sucesso não é a excelência do produto nem o preço competitivo, mas a boa relação com os donos do poder.

E nem se fala mais em política industrial.